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Highly Dub(IO)us
Odeio Reggae!
De vez em quando afirmo isto em alta voz e só tenho de esperar uns segundos pelas reacções. Abomino, mesmo. Não aguento, jamais gostei. Nunca fui nem tenciono ir à Jamaica e um dia cheguei a Essaouira de onde fugi duas horas depois de perceber que estava cheio de lojinhas a vender t-ees do Bob Marley.
Mas o mais incrível é que adoro Dub. E não é assim tão inacreditável, o Reggae é a música que a Jamaica decidiu tocar a caminho da Etiópia prometida enquanto o Dub é o som que ficou quando essa Africa, numa compacta nuvem de fumo, enganou-se no destino e aterrou na Lua.
O Dub é o domínio de dois semi-deuses musicais: o Delay e o Echo, da deformação do tempo através do afastamento dos seus elementos mais importantes e como fórmula foi re-utilizada para muito mais do que produzir versões mais “espacióticas” dos originais em causa. É um dos casos em que o template cria um documento novo em si. E é assim que a primeira escolha da M4we desta semana são o Mute Beat, uma brass band japonesa que com toda a mestria aplica as técnicas do Dub aos naipes de sopro. Mais à frente a escolha de BudNubac (projecto de Robin Taylor-Firth, o qual fui acompanhando dos Nightmares on Wax até aos Olive) advém de idêntico critério ao aplicar estes mesmos princípios aos sons cubanos da Salsa, da Guaracha e da Pachanga.
Calcula-se que a origem da palavra está na criação de versões especiais cortadas em acetato para utilização pelos DJs dos sound systems em Kingston, dubplates únicos que mais ninguém tinha. Mas na busca de uma etimologia para a designação encontram-se pistas no uso de vernáculo mais “esquentado” e sexual como por exemplo no titulo “Dub the Pum Pum” (este pum pum cantado pelos The Silvertones é calão jamaicano para genitália feminina).
Admirado por punks ao mesmo tempo que por produtores de disco-sound o Dub não se fica no entanto por esses tempos longínquos, continuando a suscitar legiões de seguidores, como a “escola de Viena” que tanto gozo nos deu a todos pelas mãos habilidosas dos Kruder & Dorfmeister ou dos Tosca.
Mesmo por cá houve afiliação ao Dub Clubcom alguns dos seus sócios honorários incluídos nesta minha escolha, kudos ao Francisco Rebelo, João Gomes e Tiago Santos mas também ao Miguel Guia e Tó Ricciardi e especialmente ao Fernando Nabais pelo projecto Homem Invisível no qual me convidou para vocalizar a versão Dub do tema “No Cais do Sodré”.
Deixo ainda pistas para o que se vai fazendo por paragens que não relacionamos normalmente com o Dub, como o Texas onde o trio Khruangbin decidiu recentemente fazer toda uma nova versão de um LP anterior convidando o produtor jamaicano Scientist.
O que se ouve nesta escolha musical são caleidoscópicas montagens que re-apresentam motifs dos originais mas em constante fluxo de mudança e justaposição porque o Dub é música de drums and bass, onde secções rítmicas conjuram uma vastidão espacial onde qualquer outro elemento acaba por brilhar como se fosse uma fulgurante estrela cadente.
Façamos por isso uma solene vénia a alguns dos grandes no firmamento do estilo: Lee “Scratch” Perry, Osbourne “King Tubby” Ruddock e Bunny Lee, que imersos num nocturno estupor imbuído de álcool isopropílico sempre que o rum acabava, foram os grandes inventores desta verdadeira banda sonora do Afrofuturismo.
Não tenham contratempos este fim de semana.
#staysafe #musicfortheweekend
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I hate Reggae!
Once in a while I say this out loud and I just have to wait a few seconds for reactions. I really hate it. I can’t take it, I never liked it. I have never been nor intend to go to Jamaica and one day I arrived in Essaouira from where I ran away two hours after realizing that it was full of little shops selling Bob Marley t-ees.
But the most incredible thing is that I love Dub. And it’s not that unbelievable, Reggae is the music that Jamaica decided to play on the way to promised Ethiopia while Dub is the sound that survived when that Africa, in a compact cloud of smoke, took the wrong turn and landed on the Moon.
Dub is the domain of two musical demigods: the Delay and the Echo, the deformation of time through the removal of its most important elements and as a formula it was reused for much more than producing more “spacious” versions of the originals in cause. It is one of the cases in which the template creates a new document itself. And this is how the first choice of this week’s M4we is Mute Beat, a Japanese brass band that masterfully applies Dub techniques to their horn ensemble. Later on, the choice of BudNubac (a project by Robin Taylor-Firth, which I’ve followed from Nightmares on Wax to Olive) comes with the same criterion when applying these same principles to the Cuban sounds of Salsa, Guaracha and Pachanga.
Possibly the origin of the word is in the creation of special versions cut in acetate for use by DJs of sound systems in Kingston, unique dubplates that no one else had. But in search for an etymology clues are found in the use of a more “heated” and sexual vernacular, such as in the title “Dub the Pum Pum” (this pum pum sung by The Silvertones is Jamaican slang for female genitalia).
Admired by punks at the same time as disco-sound producers, Dub did not remain however in those distant times, continuing to raise legions of followers, such as the “Vienna school” that brought us so much joy every time we heard Kruder & Dorfmeister or Tosca.
Even in Portugal, there was an affiliation with the Dub Club with some of its honorary members included in my choice, kudos to Francisco Rebelo, João Gomes and Tiago Santos but also to Miguel Guia and Tó Ricciardi and especially to Fernando Nabais for the Invisible Man project in which he invited me to vocalize the Dub version of the track “No Cais do Sodré”.
I’ll leave some clues to what is being produced in places that we do not normally relate to Dub, like Texas where the Khruangbin trio recently decided to make a whole new version of a previous LP inviting Jamaican producer Scientist.
What you hear in this musical choice are kaleidoscopic montages that re-present motifs from the originals but in a constant flux of change and juxtaposition because Dub is music of drums and bass, where rhythmic sections conjure up a spatial vastness where any other element ends up shining like if it were a shining shooting star.
So let us make a solemn bow to some of the greats in the style’s firmament: Lee “Scratch” Perry, Osbourne “King Tubby” Ruddock and Bunny Lee, who immersed in a night-time stupor infused with isopropyl alcohol whenever the rhum ran out, were the great inventors of this true Afrofuturistic soundtrack.
Have an offbeat spacey weekend.
#staysafe #musicfortheweekend
Mute Beat – After the Rain
Bryan Ferry – Boys And Girls (Horton Jupiters Mystic dub)
Captain Planet – Bubuj
Tosca – Annanas (Cosmic Rocker Dub)
Cool Hipnoise – Entre o Sol e a Terra
Junior Murvin – Police And Thief
Thunderball – To Sir with Dub
Marianne Faithfull – Swinger Sex (KBE Remix)
The Garden – Fly In The Ointment
Lee “Scratch” Perry – Dub Magik
Funk ReverSe – In&Out (DJ Moy Dub Version)
Easy Star All-Stars – Money (feat Gary ‘Nesta’ Pine & Dollarman)
Afternoons In Stereo – Saarinen In Dub
Quantic presenta Flowering Inferno – Dub del Pacifico
Homem Invisível – No Cais Sodré
Maximum Joy – Silent Street / Silent Dub
Jacob Miller – Dreada Dread Dub
Band Aid – A Tour In Italy (Dub)
BudNubac – Quedate Conmigo
The Neville Brothers – Fly Like An Eagle (Slippin’ Dub)
Disco Deviance – I Can Dub That (Out In The Sticks Edit)
Submotion Orchestra – Finest Hour (Planas Remix)
David Marston – Take Your Time (Marston’s Dub)
Public Image Limited – Death Disco (7″ Edit)
Khruangbin – Sunny’s Vision
Culture Club – Do you really want to hurt me (Dub Version)
Spaceboys – Eclipse
Jd73 – Dark Dub
Pablo Bolivar – Black Mamba
Geode Feat C Tivey – Boogie Woogie
Uffe – Fridge Magnet (Radio Theme 1)
Lee ‘Scratch’ Perry & Subatomic Sound System – Underground Roots feat. Ari Up of the Slits
Shelter Ave. – Dubida
Errol Brown & the Revolutionaries – Dread at the Controls
Vanessa Daou – My Love Is Too Much
Franky Selector – Windswept Sand Dune (Fred Everything Space Re-Dub)
Mo Et Moi – Dream (Anton Feine Remix)
The Black Seeds – Make A Move (Downtown Brown Remix feat. MC’s Mighty Asterix & Switch)
Coldcut & On-U Sound – Kajra Mohobbat Wala
Massive Attack – (Exchange)