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Play it Again, Sam – Yacht μ-zique (the advent of Jazz-Rock)

Yacht. Ultimamente conjura-se tanto esta palavra que no Spotify até serve para rotular um certo tipo de música mas se eu quiser ser mesmo sincero deixo aqui a minha opinião de que é só mais um termo inventado em bom  “marketês” para inglês ver… o reshape remodel daquilo a que já dava pelo nome de AOR (Album Oriented Rock para uns Adult Oriented rock para outros mas que nada mais é do que um combo de rock, jazz, soul e um toque de folk) dá assim para vender fundos de catálogo, o mundo da música está cheio destas coisas que acabam com autocolantes de Nice Price ou Special Discount. Tudo tão em voga que recentemente até o irredutivel The Jazz Pit rendeu-se à moda e singrando no Mixcloud a partir de Dublin num cast dedicado ao tema afundou-se em águas turvas.

O termo Yacht foi cunhado por J.D. Ryznar em 2005 quando inventou uma série de mockumentarys que abordavam o processo criativo de músicas criadas por bandas como os Steely Dan, Toto e Doobie Brothers ou os compositores Kenny Loggins e Michael McDonald.

Estou por isso a falar de alguns temas icónicos apreciados pelos betos da Linha mas que ao mesmo tempo continuaram a ser ouvidos em compilações de “música baleárica bem depois do seu “prazo de validade” por qualquer pessoa que visse um pôr do sol em Ibiza enquanto lá passava férias. Mas será que é mesmo um esquema para nos vender música que já conhecemos? E se não é qual a origem então desta banda sonora com tão incrível longevidade?

Na América do meado da década de 70 do século passado (dito assim parece muito mais tempo) viviam-se tempos instáveis, a conclusão da guerra do Vietnam, a crise do petróleo, um presidente que foi apanhado com as calças na mão (ainda longe do Bill Clinton, estou a falar do Richard “Tricky Dicky” Nixon). Os americanos em geral sentiam pela primeira vez que não eram os maiores do mundo e uma banda sonora de cariz escapist estava a chegar que iria arrebatar as tabelas de vendas. Mas este soft rock era inteligente e virtuoso, coisa que não voltou a acontecer muito mais vezes na história dos Top 20 da música popular. Na sua base uma fusão de Jazz-Rock e letras de uma sensibilidade que nos leva a passear por estranhos e recônditos locais do mapa humano.

Começo com os Steely Dan, Walter Becker e Donald Fagen no seu primeiro album Can’t Buy a Thrill e encerro só com Fagen no seu ultimo disco de estúdio Sunken Condos. O meu amigo eastender Samuel Bergliter, sobrinho do compositor Lionel Bart e que coproduziu o primeiro disco dos LX90 disse-me um dia achar que Donald Fagen fazia música de dança para intelectuais. Becker e Fagen começaram os 70 a escrever canções quase a metro a pedido de Kenny Vance que tinha um pequeno escritório no Brill Building que servia de quartel general de muita empresa do Tin Pan Alley. Os ventos da sorte iriam soprar quando um associado de Vance, Gary Katz, mudou-se para LA como produtor da ABC Records e rapidamente arranjou forma de mandar vir a dupla até à Califórnia. Katz viria a gravar com Roger Nichols todos os discos da primeira fase dos Steely Dan, ou seja até Gaucho em 1980. Nichols recebeu 6 Grammys por estes 7 discos. Boom Jack, not a bad score.  

Em contrapartida a maior parte do casco, quilha e leme desta compilação serve para derivar para mais uns quantos pontos:

Primeiro tenho de discordar que isto seja um som exclusivo da West Coast. Seria sim, se só existissem os EUA no atlas mundial. É que geograficamente há mesmo mais marinas onde se possa atracar este barco… escolhi por isso uma coisa mais adriática, outra com uma onda mais de Okinawa, da Guanabara até ao serpenteado do Danúbio ali pelos lados da Sérvia. Nesta história canta-se também em italiano ou francês num relato onde até uma poça de água serve para embarcar os protagonistas. 

Segundo tenho também de dizer que não é uma música feita só por homens, como defendem as mentes mais académicas, como a Katie Puckrik num documentário em duas partes transmitido na BBC4. Meu Deus, a inclusão da Joni Mitchell pode parecer far-fetched mas é contextual, liricamente The Hissing Of Summer Lawns é um verdadeiro blueprint para o que aí viria, quanto ao Jardim Zoológico temos só de o ouvir para entender que a Lena D’Água tem de certeza pelo menos carta de patrão de costa.

Terceiro, ao evitar por razões óbvias a inclusão do Sailing do Christopher Cross, incluo à proa o Jack Miraculous do Gino Vannelli, o qual normalmente tem mais que dois “iates” por disco mas que aqui mostra o lado mais jazz rock do seu grupo. Invoco também ali mais à popa os Kane Gang que eram do nordeste inglês mas que não enganam ninguém nas suas ambições sonoras. Por fim começo a suspender a ancora ao destacar três composições bem recentes: Show You The Way, onde Thundercat junta-se a McDonald e Loggins, Not Enough de Benny Sings, um dos mais subestimados compositores da actualidade e ainda o excelente Kids dos Young Gun Silver Fox que içou a vela em Fevereiro deste ano. Acho que só isto já é ampla prova como esta música ainda tem muita milha marítima pela frente…

Espero que não se sintam mareados com tanto doobie bounce no fim de semana.

#staysafe #musicfortheweekend

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Yacht. Lately this word has been conjured up so much that on Spotify it even serves to label a certain type of music but being really sincere I leave here my opinion that it might as well be just one more marketing ploy. Reshape-remodel of what was already known as AOR (Album Oriented Rock for some Adult Oriented rock for others but which is nothing more than a combo of rock, jazz, a pinch of soul and a touch of folk) so you can upload some back catalog, the music world is full of these things that end up with Nice Price or Special Discount stickers. All this so much in vogue that recently even the irreducible The Jazz Pit surrendered to fashion and sailing at Mixcloud from Dublin in a cast dedicated to the theme sank in murky waters.

The term Yacht was coined by J.D. Ryznar in 2005 when he invented a series of mockumentaries that addressed the creative process of music created by such bands as Steely Dan, Toto and Doobie Brothers or composers Kenny Loggins and Michael McDonald.

I am therefore talking about some iconic themes appreciated by the Estoril and Cascais “betos” but which at the same time continued to be heard in Balearic compilations well after its “expiry date” by anyone who saw a sunset in Ibiza while there on vacation. But is it really a scheme to sell us music that we already know? And if not what is the origin of this soundtrack with such incredible longevity?

In the mid-seventies of the last century America lived an unstable reality, the conclusion of the Vietnam war, the oil crisis, a president caught with his pants down (Bill Clinton still far away, I’m talking about Richard “Tricky Dicky” Nixon). Americans in general felt for the first time that they were not the big honchos of this world and an escapist soundtrack was in the making that would snatch the sales charts. But this soft rock was intelligent and virtuoso, something that has not happened much more in the history of popular music’s Top 20. At its base is a fusion of Jazz-Rock and lyrics of a sensitivity that leads us to stroll through strange and hidden places on the human map.

I start with Steely Dan, Walter Becker and Donald Fagen on their first album Can’t Buy a Thrill and finish with only Fagen with a track from his latest studio album Sunken Condos. My eastender friend Samuel Bergliter, nephew of the composer Lionel Bart and who co-produced my first LX90 album, told me one day that he thought Donald Fagen was making dance music for intellectuals. Becker and Fagen started their 70s writing songs almost by the meter at the request of Kenny Vance who had a small office in the Brill Building that served as the headquarters of many Tin Pan Alley companies. The winds of luck would blow favourably when Vance’s associate Gary Katz moved to LA as a producer for ABC Records and quickly found a way to get the pair to California. Katz would record with Roger Nichols all the records of Steely Dan’s first phase, that is, until Gaucho in 1980. Nichols received 6 Grammys for these 7 records. Boom Jack, not a bad score.

In contrast, most of the hull, keel and rudder of this compilation serve to drift away to a few more coordinates:

First I have to disagree that this is an exclusive West Coast sound. It would be, if only the USA existed in the world atlas. Geographically, there are even more marinas where this boat can be docked … so I chose something more Adriatic, another being more like a wave in Okinawa, from Guanabara to the Danube snaking its flow closer to Serbia. Because we can hear singing in Italian or French in this story where even a puddle of water serves to embark the protagonists.

Second, I also have to say that it is not made only by men, as the most academic minds defend, like Katie Puckrik in a two-part documentary broadcast on BBC4. My God, the inclusion of Joni Mitchell may seem far-fetched but it is contextual, lyrically The Hissing Of Summer Lawns is a true blueprint for what would come, as for Jardim Zoologico we just have to listen to it to understand that Lena D’Água certainly rocks the boat so has all the requirements to sail this playlist.

Third, by avoiding the inclusion of Christopher Cross’s Sailing for obvious reasons, I include Gino Vannelli’s Jack Miraculous at the bow, who usually has more than two “yachts” per disc but here shows more of his inclination for jazz-rock. I also invoke the Kane Gang who were from the Northeast of England but who do not deceive anyone in their sonic ambitions. Finally I begin to lift the anchor by highlighting three very recent compositions: Show You The Way, where Thundercat joins McDonald and Loggins, Not Enough by Benny Sings, one of the most underestimated composers of today’s pop music and also the excellent Kids of Young Gun Silver Fox that hoisted sails in February this year. I think that this alone is ample proof that whatever we decide to call this music genre it still has a lot of maritime miles ahead…

I hope you don’t feel too sea sick with so much doobie bounce over the weekend.

#staysafe #musicfortheweekend

Steely Dan – Only a Fool Would Say That

Boban Petrovic – Prepad

Robson Jorge & Lincoln Olivetti – Jorgea Corisco

Ulla – Space Lady

Thundercat – Show You The Way (feat. Michael McDonald & Kenny Loggins)

Yamashita Tatsuro – Sparkle

Alessi – Do You Feel It

Diane Tell – Je Suis En Amour

Andrew Gold – Never Let Her Slip Away (Northern Rascal Yacht Rock Edit)

Byrne & Barnes – Love You Out Of Your Mind

Michael Omartian – Fat City

Michael Nesmith – Capsule (Hello People a Hundred Years From Now)

Lena D’Água ‎– Jardim Zoológico

Loves Last Episode – What a Fool

Boz Scaggs – Lowdown

Ben Sidran – Hey Hey Baby

Poolside – Around The Sun

Loredana Berte – In Alto Mare

Kenny Loggins- This Is It

Joe Vitale – Step on You

Kane Gang – Motortown

Benny Sings – Not Enough

Joni Mitchell ‎– The Hissing Of Summer Lawns

LeBlanc & Carr – Stronger Love

Jay Days – Long Way Home

Leo Sayer – Easy To Love (La Homage Rodeo Drive Ride Edit)

Eric Tagg – Got to Be Lovin’ You

Nohelani Cypriano – Lihue

Hiroyuki Namba – シルバーグレイの街 The City of Silver Gray

Michael McDonald – Open The Door (Urban Remix)

Mario Acquaviva – Notturno Italiano

Marc Jordan – Generalities

Deodato – Super Strut

Gino Vannelli – Jack Miraculous

Rosie Vela – Magic Smile

The Midnight Flyers – I Just Want To Love You

Young Gun Silver Fox – Kids

Mike Lundy – Love One Another

Babadu – I Love Music

Donald Fagen – I’m Not the Same Without You

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