#010
Nightboat to Cairo
The Clash – Rock the Casbah
David Bowie – Yassasin
Led Zeppelin – Kashmir
Velvet Underground – Venus in Furs
Bangles – Walk like an Egyptian
Jefferson Airplane – White Rabbit
Foxy Brown – Hood Scriptures
Rolling Stones – Paint it Black
Jay-Z – Big Pimpin’
The Pussycat Dolls – Buttons
Siouxsie And The Banshees – Cities in Dust
Britney Spears – Toxic
The Chemical Brothers – Galvanize
Truth Hurts feat. Rakim – Addictive
Doce – Ali Babá
A lista é muito grande para caber aqui por isso fico só por estas 3 mãos cheias de cancioneiro pop com os olhos postos em Meca e os ouvidos sintonizados na direcção de Jerusalem.
Supostamente sempre cheio de cagunfa da mafoma nunca o Ocidente escondeu o fascínio pelo “oriental” e na música muitos reflexos disso existem. Na Clássica ou na Exotica o fascínio por aquilo que nos é distante obscurece a noção real que já se podia ter dos locais invocados, os seus odores e temperaturas deixados à imaginação de quem ouvia Rimsky-Korsakov ou Martin Denny.
Mas o que nos interessa este fim de semana é este Este muito mais próximo, o Médio Oriente. Lógicamente terei de incluir o Norte de Africa e todo o Levante desse mesmo continente, o qual tem uma forte influencia arábica.
A seguir ao colapso do Império Romano a Europa atravessou uns bons séculos de trevas, onde a igreja tomou as rédeas da educação pelejando todas as ideias externas à sua esfera sob o pretexto de estar a combater o paganismo. Assim a pouca expressão musical que restou foi incorporada nos serviços religiosos e no Canto Gregoriano que era usado para captivar e subjugar as populações aos desígnios da Igreja. É a partir do século X que podemos observar que o conhecimento em medicina, filosofia, astronomia, matemáticas e artes floresce no Continente pelas mãos dos muçulmanos na Peninsula Ibérica, principalmente na Andalusia.
Em Portugal o fado é talvez a maior prova de “eles” terem estado cá, tivéssemos sido “colonizados” por Vikings e de certeza que a nossa música mais popular era o death metal. Nem que de propósito algures nesta selecção deixo a corroboração disto na interpretação de Simon Shaheen do tema Bortuqal, um clássico de Mohamed Abdel Wanab, proeminente compositor egípcio do século XX. Ouçam-no and try and spot the differences…
אם ננעלו דלתי נדיבים דלתי מרום לא ננעלו
Im nin’alu daltei n’divim daltei marom lo nin’alu
Mesmo que os portões dos ricos estejam fechados os do Céu estarão sempre abertos.
Assim começa o poema hebreu escrito no século 17 pelo Rabbi Shalom Shabazi e que foi musicado na sua versão mais conhecida por Ofra Haza, uma cantora Israelita filha de Yemenitas. Pouco tempo antes de ter que fazer o serviço militar obrigatório estreou a canção em 1978 num programa de televisão. Mas seria só dez anos depois que Im Nin’alu chegaria de tal forma aos tops europeus que logo a seguir os Coldcut produziriam um remix de Paid in Full da dupla Eric B. & Rakim onde “samplavam” grandiosamente o original de Haza. A venda de mais 3 milhões de cópias foi o princípio do crossover da world music para as tabelas mainstream.
Longe iam os tempos em que na Fnac dos Halles em Paris para encontrar a edição francesa do primeiro disco dos Heróis do Mar tínhamos de procurar na secção de folklores do mundo. Eram outros tempos porque hoje é fácil termos acesso a muito do que é feito por esse mundo fora. Mesmo assim e descontando lógicamente todo o lixo soft house que se ouve em discos género Café de Anatolia (e que bem podia ser a banda sonora da secção halal do El Corte Ingles se tal coisa existisse), descobrir boa música na lingua do Corão é bem complicado.
Assim sendo esta semana inicio a caminhada pelo deserto não com a escolha óbvia de Oum Kalthoum, porque tudo o que tenho dela é muito longo e não tenho lata para mexer com a senhora ao fazer um edit (coisa que o Hello Psychaleppo no seu disco Gool L’ah já não tem problema de espécie alguma). Descubram-na, vale a pena.
Por isso só podia mesmo começar com a diva libanesa Fairuz. É aqui que se percebe imediatamente o fascínio da música árabe nos seus arranjos superlativos servidos por extraordinárias vozes.
Mas no entanto na nossa deambulação por estas paragens vamos compreender como também é recíproco o fascínio com a musicalidade ocidental numa ornamentada tapeçaria de piscares de olhos e sobejos agradecimentos e vénias. Há assim lugar tanto a jazz, disco, funk, house ou ambiental como a orquestras ou solistas que produzem as suas estranhas preces num MacBook Pro algures nos arredores de Teerão.
Passo assim por artistas como a bela e talentosa cantora-compositora Yasmine Hamdan que nos 90s fazia parte do duo Soapkills e que é, pelos vistos, grande poliglota porque em AL Jamilat, o seu ultimo de originais na editora Crammed canta no seu nativo libanês mas também em egípcio, palestiniano, kuwaiti e dialecto beduíno revisitando assim todos os locais por onde a vida já a levou. Ou pelo “dandy em exílio” Mohamed Mazouni que recentemente teve direito a uma reedição de alguns dos seus grandes hinos à liberdade. Esse sentimento de alforria que encontro circunscrito e bem sublinhado em quase todos os 40 temas desta M4we, da condição feminina à recente Primavera árabe ou na sensação outlander destes migrantes noutras terras onde acabam por fazer sem constrangimento o que sempre ambicionaram realizar apesar do “distanciamento obrigatório” às suas origens territoriais.
Ou ainda todo um role de grandes figuras desta história das Arábias como os Tinariwen, a Mim Suleiman (que ultimamente conta sempre com a ajuda do Maurice Fulton na produção dos seus discos) ou algum roster da Disco Halal, editora alemã firmemente alicerçada na cena mais electro-avançada de Tel Aviv e que não deixa nenhum ventre fora do bailarico electrónico.
Quem acompanha isto semanalmente sabe que eu até sou dado ao efeito de pescadinha-de-rabo-na-boca e por isso acabo com Rachid Taha, genial “aventureiro sónico” franco-argelino especialista no ménage a plesieurs do punk e da tecno com o Raï e o Chaabi. Morreu há dois anos uns poucos dias antes de completar 60 anos. Num misto de visão alucinada de sheiks que esventram o deserto “nos seus Cadillacs” e “cartoonesco” comentário sobre como o Ocidente lida com os assuntos do Médio Oriente culmino assim num full circle já que os próprios Clash poderão muito bem ter sido influenciados pelos Carte de Sejour, primeira banda de Taha quando conceberam o clássico Rock the Casbah.
Um fim de semana pleno de habib é o meu desejo para todos. Insha’Allah.
#staysafe #musicfortheweekend
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The Clash – Rock the Casbah
David Bowie – Yassasin
Led Zeppelin – Kashmir
Velvet Underground – Venus in Furs
Bangles – Walk like an Egyptian
Jefferson Airplane – White Rabbit
Foxy Brown – Hood Scriptures
Rolling Stones – Paint it Black
Jay-Z – Big Pimpin’
The Pussycat Dolls – Buttons
Siouxsie And The Banshees – Cities in Dust
Britney Spears – Toxic
The Chemical Brothers – Galvanize
Truth Hurts feat. Rakim – Addictive
Doce – Ali Babá
The list is too big to fit here so I just decided to pick from pop’s songbook 3 hands full of anthems that have eyes set on Mecca and ears tuned in the direction of Jerusalem.
Supposedly always scared of the moor, the West never hid its fascination with the “oriental” and in music many reflections of that exist. In Classic or Exotica the fascination with what’s distant from us obscures the real notion that one could already have of the places invoked, their odours and temperatures left to the imagination of those listening to Rimsky-Korsakov or Martin Denny.
But what interests me this weekend is this closer Middle East but, logically, I’ll have to include the north of Africa and all the side of that continent where the sun rises because it has a strong Arab influence.
Following the collapse of the Roman Empire, Europe went through a few centuries of darkness, where the church took the reins of education, fighting all ideas outside its sphere under the pretext of a combat on paganism. Thus the little musical expression that remained was incorporated into the religious services and the Gregorian chant that was used to captivate and subdue the populations to the Church’s purposes. It is only from the 10th century onwards that we can observe the knowledge in medicine, philosophy, astronomy, mathematics and arts flourishing in the Continent by the hands of the Muslims in the Iberian Peninsula, mainly in Andalusia.
In Portugal, fado is perhaps the greatest proof that “they” were here, had we been “colonized” by Vikings and certainly that our most popular music would have been death metal. As if on purpose somewhere in this selection I leave the corroboration of all this in Simon Shaheen’s interpretation of the theme Bortuqal, a classic by Mohamed Abdel Wanab, a prominent 20th century Egyptian composer. Hear it and if you know anything about fado try and spot the differences…
אם ננעלו דלתי נדיבים דלתי מרום לא ננעלו
Im nin’alu daltei n’divim daltei marom lo nin’alu
Even if the gates of the rich are closed, those of Heaven are always open.
Thus begins the Hebrew poem written in the 17th century by Rabbi Shalom Shabazi and which was set to music in its best known version by Ofra Haza, an Israeli singer of Yemeni ancestry. Shortly before having to do compulsory military service, she premiered the song in 1978 on a television program. But it would only be ten years later that Im Nin’alu would reach the European charts in such a way that soon afterwards Coldcut would produce a remix of Paid in Full by the duo Eric B. & Rakim where they “sampled” the original from Haza. The sale of over 3 million copies was the beginning of the world music crossover to the mainstream top lists.
Gone were already the days when at the Fnac of Les Halles in Paris to find the French edition of the first album by Portuguese rock band Heróis do Mar one had to look in the folklore record section. Those were other times because today it is easy to have access to almost all of what is done around the world. Even so and logically discounting all the soft house garbage that you hear on discs like Café de Anatolia (a possible muzak soundtrack of the halal section of El Corte Ingles if such a thing existed), discovering good music in the language of the Koran is not an easy task.
So this week I start this hike in the desert not with the obvious choice of Oum Kalthoum, because everything I have from her is way too long and I have no desire to mess with her by doing an edit (something that Hello Psychaleppo in his record Gool L’ah shows not being a problem for him). Discover Kalthoum, it’s worth it.
So I could only start with the Lebanese diva Fairuz. The fascination with Arab music is here immediately apparent in its superlative arrangements served by a extraordinary voice.
However, in our stroll through these places we will understand how reciprocal is as well the fascination with Western musicality in an ornate tapestry of winks and abundant bows of gratitude. So there will be snippets of jazz, disco, funk, house or ambient as well as a time and place for orchestras as well as soloists who produce their strange prayers on a MacBook Pro somewhere on the outskirts of Tehran.
Place for artists such as the beautiful and talented singer-songwriter Yasmine Hamdan who in the 90s was part of the duo Soapkills and who is, apparently, a great polyglot because in AL Jamilat, her last of originals published by Crammed she sings in her native Lebanese but also in Egyptian, Palestinian, Kuwaiti and in Bedouin dialect, thus revisiting all the places where life has already taken her. Or the “dandy in exile” Mohamed Mazouni, who recently had reissued of some of his greatest hymns to freedom. This feeling of liberation that I find circumscribed and well underlined in almost all 40 themes of this M4we, from the female condition to the recent Arab Spring or in the outlander feeling of these migrants in other lands where they end up doing without embarrassment what they always aspired to accomplish despite the “mandatory distance” to their territorial origins.
Or even a whole list of great figures of this hypothetical 1001 nights such as Tinariwen, Mim Suleiman (who lately always has the help of Maurice Fulton in the production of her records) or some roster from Disco Halal, a German label firmly grounded in the most electro-advanced that Tel Aviv has to offer and that doesn’t shy from a little belly dance.
Anyone who follows weekly all this knows that I am fond of the so called pescadinha-de-rabo-na-boca effect and that’s why I end up with Rachid Taha, a brilliant Franco-Algerian “sonic adventurer” who specialized in the ménage a plesieurs of punk and techno mixed with Raï and Chaabi. He died two years ago a few days before turning 60. In a crazy cocktail of sheiks who plow the desert “in their Cadillacs” and “cartoonesque” commentary on how the West deals with Middle Eastern affairs it culminates this playlist in a full circle as the Clash themselves may well have been influenced by Carte de Sejour, Taha’s first band when they conceived the classic Rock the Casbah.
An habibi weekend is my wish for everyone. Insha’Allah.
#staysafe #musicfortheweekend
Fairuz – Al Thaniah
Jalil Bennis Et Les Golden Hands – Mirza
Arsivplak – Oooh Edit
Abranis – Chenag le Blues
Rez Abbasi & Isabelle Olivier – Road Movie
Acid Hamam & Richard Rossa – Shaman Disco
Mohamed Mazouni – Écoute-moi camarade
Yasmine Hamdan – La Ba’den
BéTé – Jahlik
Mim Suleiman – Nia Lpo
Hamid El Shaeri – Ayonha
Anis Benhallak – S’ayda
47Soul – Meeli
Dalida – Helwa Ya Baladi (Remix 2009)
Simon Shaheen – Bortuqal
Chaim – Ha Alla
Kefaya & Elaha Soroor – Gole Be Khar
Rabo and Snob – Hilbeh (Rabo And Snob Edit)
Amina – Belly Dance
El Khat – Ya Raiyat
Mustafa Ozkent – Ayaz
Kamyar Khanzaei – Shout It Out (Nesa Azadikhah Remix)
Cheba Yamina – Sidi Mansour (Moving Still Edit)
Fatoş Balkir Ve Istanbul Gelişim Orkestrasi – Hey!… Taksi
Selomon Shibeshi – Endiet Zenegashiw
Ofra Haza – Im Nin’Alu (Played In Full Mix)
Khaled – Didi
Zuhura & Party – Humvui Alovikwa
Rejoicer – Awesome Tits
Nazan Şoray – Hal Hal
Al-Ahram Orchestra – Dragon Raks (Japanese-Arabian)
Alsarah & The Nubatones – Soukura
Tinariwen – Tenhert
Sohrab – Fassele IV
Afacan Sound System – Ya Sabir Disco
Basha Beats & Natacha Atlas – Rise To Freedom
Gharbi Sadok & Georges Garzia – Lala Tibki
TootArd – Roots Rock Jabali
Erkut Taçkın – Sevmek İstiyorum
Rachid Taha – Rock El Casbah