#031

from Disco to Disco

Bélgica 1980. Estou à porta da Ancienne Belgique para ver um concerto. Nesse ano a cidade de Bruxelas celebrava o seu milénio de existência e apesar de estar “colocado” em Antuérpia (agora estou a falar como um verdadeiro trooper) pelo menos duas vezes por semana descia de comboio até à capital para ver uma catadupa de concertos maravilhosos.

À porta estava também um grupo de Valões parvinhos de onde se destacava um diletante que parecia o Joey Ramone. Envergava uma t-shirt ostentando uma frase que nunca mais me saiu da cabeça: donnez moi du disco et je vou le casserez sur la tête. Ora aqui estava uma opinião forte mas também anacrónica, protelada por um “panquezito” sobre um estilo musical entretanto caído em desuso. Mas será que era mesmo assim? Será que a disco, depois de reinar durante uma bela parte da década de 70, poderia ter desaparecido?

Nada disto é um grande whodunit já que a história foi muito bem demonstrando que esta banda sonora do hedonismo nunca se foi embora das nossas vidas, re-transformando-se para futuras gerações sob a alçada da house ou dos sons das bandas neo-românticas do princípio da década seguinte, só para dar dois exemplos em que a preservação do estilo é mais que evidente. Num mundo em que quase toda a gente está em modo Born to be Alive já tínhamos tido no mesmo ano um Death Disco e acabamos por ter direito, 41 anos depois, a um Cosmic Intergalactic Nebula Boogie, titulo pelo qual convém não nos deixarmos ficar hipnotizados pela sua majestade. Este 12” do usual suspect J.B. Boogie (e que decidi nem sequer incluir nesta minha escolha por motivos óbvios de achar que um pouco de pesquisa nunca fez mal a ninguém) é tudo o que se acha que esta Nu-Disco deve ser: fiel às origens, clap your hands in the air, just like you don’t care…  

Jump cut para 2020. Mais que nunca é neste ano em que bares e discotecas estiveram encerrados que o som de uma nova disco-sound faz sentido. Música do aberratio delicti e da não transgressão, não obrigado. Queremos dançar como se não houvesse um amanhã de manhã no desejo de voltar a sentir o corpo suado numa qualquer pista de dança. Engane-se no entanto quem achar que esta é a banda sonora de quem não tem preocupações, exemplo dado em contrário é o espectacular For Beirut, album feito por uns quantos protagonistas de renome ((por ordem alfabética e indo só até à letra J: Acid Arab, Anoraak, ATTARI, Breakbot, CLAAP!, Dimitri From Paris, Get A Room!, In Flagranti, Gabriel Yared e Joakim) para angariar fundos após a recente explosão que arrasou todo o porto libanês.

Nesta escolha acabei por só selecionar edições de 2020, quase todas elas originais mas por entre côdeas tinha de se ver o miolo que contribuiu para a grandeza dos estilo. De Patrick Cowley que neste ano de pão mal levedado teve direito a duas edições bem demonstrativas do seu génio, a Cerrone, verdadeiro padeiro de Aljubarrota do género que aproveitou para editar neste ano atípico um novo disco de originais, passando por Bernard Fevre, que em 1979 lançou juntamente com Jacky Giordano (este foi só o sponsor da gravação) o clássico Devil Club, uma daquelas pepitas que um colecionador terá de pagar cerca de 300 euros por uma cópia em condição Near Mint. Este disco foi alvo de uma certa desconfiança quando a Rephlex o re-editou em 2004, com muito boa gente a achar que era mais uma prank de Aphex Twin a fazer passar um disco seu como descoberta arqueológica da electronica perdida. Pois foi também em 2020 que Fevre editou mais um disco que documenta esse elo de metáfora sónica que existe entre a space disco e a synth pop que através de gemidos femininos, percussões analógicas e harpejos de ponta-e-mola transportam-nos para o chique (não existe palavra mais adequada) das boîtes parisienses do limiar dos anos 70.

Tudo o mais é puro êxtase, love and happiness (sample escolhido por Eli Escobar para fundamentar a minha escolha de I Love Rochelle a acabar a ultima M4we deste ano), com alguns dos maiores defensores da disco a puxarem dos galões para ver quem é que leva a taça para casa. Frank Booker, Horse Meat Disco, Hotmood, Monsieur Van Pratt, Crackazat, Sound Support ou os portugueses Mirror People a desencaminharem Hard Ton, numa lista que ficará sempre incompleta na omissão da escola escandinava (fica assim apalavrada uma visita futura a terras de Vikings que gostam de Bee Gees robóticos). Quase tudo boa gente que nem tinha nascido quando a disco marcava o ritmo nas pistas de dança deste mundo tristonho.

Saltem a pés juntos deste ano e aterrem no novo como se tivessem calçado um Concorde…

#staysafe #musicfortheweekend

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Belgium 1980. I’m at the door of Ancienne Belgique waiting to see a concert. In that year, the city of Brussels celebrated its millennium of existence and despite me being “placed” in Antwerp (now I am speaking like a real trooper) at least twice a week I would get the train down to the capital to see a bucketload of gigs.

At the door lining up was also a group of silly Wallonian twats, one of them a dilettante Joey Ramone look-alike. He wore a t-shirt with a phrase that got stuck ever since in my head: donnez moi du disco et je vou le casserez sur la tête. Now, here was a strong but also anachronistic opinion, portrayed by a “little punk” about a musical style fallen into disuse. But was it really like that? Could disco, after reigning so supreme during most of the 70’s, have disappeared?

None of this is a great whodunit as history has very well demonstrated that this soundtrack to hedonism never really left our lives, transforming itself for future generations under the purview of house music or the sounds of the neo-romantic bands of the beginning of the following decade, just to give two examples in which the preservation of style is more than evident. In a world where almost everyone is in some kind of Born to be Alive mode, we had already had a Death Disco that same year and ended up entitled, 41 years later, to a Cosmic Intergalactic Nebula Boogie, a title for which we should not let ourselves become ravished by it’s majesty. This 12” (that I decided not to include in my choice for the obvious reason of thinking that a little research can never hurt anyone) by usual suspect JB Boogie is everything that this Nu-Disco should be: faithful to it’s origins, clap your hands in the air, just like you don’t care…

Jump cut to 2020. In a year when bars and clubs were closed most of the time the proposal of a new disco-sound makes sense. Music of aberratio delicti and non-transgression, NO, not really, thanks. We want to dance as if there is no tomorrow morning in a desire to feel our sweaty bodies again on some sort of dance floor. However, if you think that this is the soundtrack of someone who has no worries, an example given to the contrary is the spectacular For Beirut, an album made by a few renowned protagonists (in alphabetical order and reaching only to the letter J: Acid Arab, Anoraak, ATTARI, Breakbot, CLAAP!, Dimitri From Paris, Get A Room!, In Flagranti, Gabriel Yared and Joakim) to raise funds after the recent explosion that destroyed most of the Lebanese port.

For this selection, I ended up only choosing stuff published in 2020, almost all of them original, but stripping the crust revealed some of the dough that contributed to the greatness of the style. From Patrick Cowley, who in this year of badly leavened bread was entitled to two very demonstrative vinyl demonstrations of his genius, Cerrone, a master baker of the genre who, in a very unusual year took the opportunity to concoct  a fantastic new record, arriving at Bernard Fevre, that in 1979 came out, together with Jacky Giordano (he has writing credits but was only the sponsor of the recording) the classic Black Devil Disco Club, one of those nuggets that a collector will have to pay around 300 euros for an original copy in Near Mint condition. This record was target of some suspicion when Rephlex first came out with a new pressing in 2004, with some people thinking it was some sort of prank by Aphex Twin insinuating his compositions   as  some sort of archaeological discovery of lost electronica. For it was also in 2020 that Fevre published another album that documents these sonic metaphors that exist as a link between space disco and synth pop and that, through female moans, analog percussions and spring-loaded arpeggios, transport us to the chic (in this case such a suitable word) Parisian nightclubs in the threshold of the 70s.

Everything else is pure ecstasy, love and happiness (sample chosen by Eli Escobar to substantiate my choice of I Love Rochelle ending the last M4we of this year), with some of the greatest disco supporters pulling up rank to see who takes home the first prize. Frank Booker, Horse Meat Disco, Hotmood, Monsieur Van Pratt, Crackazat, Sound Support or the portuguese Mirror People misleading Hard Ton, in a list that will always be incomplete in the absence of the Scandinavian school (a future visit to the land where Vikings behave like robotic Bee Gees will make amends). All in all a great bunch of people, most of whom were not even born when disco set the pace on the dance floors of this sad world.

Jump up out of this year and land on the new one as if you had a Concorde on your feet…

#staysafe #musicfortheweekend

Delfonic – Dis Moi (Bilingual Edit)

Fiesta – W Moim Niebie Nie Ma Gwiazd (DYYU∩E & Bisti Edit)

Anoraak – Rush

The Pendletons – You Do You (feat. Howard Johnson) (Potatohead People Remix)

Elia y Elizabeth – Alegría (Yuksek Remix)

Patrick Cowley – Do It Any Way You Wanna (Vocal)

Black Devil Disco Club – Six Six Sex

Ghosts of Venice – Shoot Me with Your Love

Frank Booker –  World Of Make Believe

Monsieur Van Pratt – Me and You

Sound Support – Europe (Prins Thomas Diskomiks)

The Funk District – Let’s Make Love

Hotmood – Por Que Me Dejaste

J.B. Boogie – Garden

Mario Basanov – Truly Love feat. Donny Montell

Horse Meat Disco feat. Amy Douglas & Dames Brown ‎– Message To The People (Philly Mix)

Discojuice – Let’s Go Out

Dar Disku & Moving Still – Sidi Mansour

DJ Mark Brickman – A Fifth of Disco

Mirror People – Boogie Dance feat. Hard Ton (Club Mix)

Platinum City – Nothing but the Music (Dr Packer Remix)

Sunner Soul – He Comes To You

Pipi Le Oui – Friends Like Me

Purple Disco Machine feat. Mind Enterprises – Exotica

AC Soul Symphony – Manhattan Skyline (JN Spirit of ’77 Extended Mix)

Crackazat – Waterfalls

Cerrone – Let Me Feel

Risk Assessment – Beep Beep

Phil Disco – Neon

Daniel T. – All Thai’d Up

The Velvet Stripes – Asian Girl

The Love Symphony Orchestra – Let Me Be Your Fantasy (Dr Packer Remix)

Anane – Get On The Funk Train (Louie Vega Short Version)

Mavalo – Get Back on the Floor

Doug Willis – Dancin’ 2020 (Joey Negro Extended Rebuild)

Antenna! – Chroma

Kollektiv Turmstrasse – Deine Distanz (Macho Cutie remix Fadeout version)

Fingerman – Do It Again

Marc Roberts – Foolio Paradiso

Eli Escobar – I Love Rochelle

1 Comment
  • Caro Rui
    Antes de mais quero felicita-lo por este site que descobri hoje através do sua colaboração no post 31 da Discoteca Flur (de que sou cliente regular)
    Já o conheço do final dos anos 70 quando era talonador no Belenenses. Eu jogava na mesma posição no São Miguel. Acho que foi a Inglaterra pela seleção de Juniores na altura.
    Acompanhei pouco depois o seu trabalho nos Herois do Mar.
    Perdilhe o rasto posteriormente mas agora vou acompanhar estas compilações com grande gosto.
    Um grande 2021 com Boas Audições

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