#032

Exodus, movement of Jah people!

Pt01 Flow the Urban Life

Começo o ano com um tríptico musical desenrolado em três diferentes locais figurados para assim poder situar a acção a decorrer.

Escolho a palavra “êxodo” como ponto de partida pois todo e qualquer fluxo é um caminho, uma estrada. Proveniente do grego ἔξοδος a etimologia aponta para um significado de saída, uma way out que na verdade não é concebível sem curso ou trajecto. Um apartar das águas como aquele que é delineado no “segundo” livro da Bíblia e que no entanto, para as mentes mais estudiosas da matéria, aponta não para o ordeal de Moisés mas sim para um acontecimento mais antigo, o “exílio Babilónico” acontecido em VI B.C. e contado verbalmente através do tempo às gerações judaicas. 

Começo assim com o flow urbano, eu que sempre apreciei a orbita citadina no entanto sempre levantando certo tipo de questões do tipo “o que leva alguém a montar acampamento permanente no sopé de um vulcão assim erguendo Pompeia?”. Se não para nos ajudarmos então qual a verdadeira razão de uma cidade? Cidade (repare-se na maiúscula) onde sempre me revi e onde quase sempre vivi. Esse petit mot que define algo muito maior, a palavra “cidade” rima com falsidade e plasticidade mas também faz verso com caridade e sensibilidade. Antros de complexidade emocional e desvario vivencial as grandes urbes do planeta são como um petri dish social onde tudo pode, caoticamente, acontecer.

E ainda bem… pela parte que nos toca quanto às 40 músicas selecionadas esta semana. Sons urbanos, feitos em comunidade e desfrutados desde a sua inception (deveria dizer Génese para continuar em modo bíblico?) por muito boa gente. Quando vivi em Londres nas calendas dos 90s dava-me com o Carl McIntosh dos Loose Ends, ora aí está um rapaz que só poderia produzir a sua música enquanto urbanite expedito e viajado. É com ele uma das escolhas desta semana. Ou a Martine Girault, da qual aqui recordo a sua revisitação em 1997 de temas dos Swing out Sister a que chamava S.O.U.L (The Sound of Urban London).

Então o que leva a cidade a ser uma tão inspiradora musa musical? Eça achava que os sentimentos mais genuinamente humanos logo se desumanizam nesse lugar que chamamos de cidade. No entanto a cidade não é um lugar. Segundo Mia Couto “é a moldura de uma vida. A moldura à procura de retrato, é isso que eu vejo quando revisito o meu lugar de nascimento. Não são ruas, não são casas. O que revejo é um tempo, o que escuto é a fala desse tempo. Um dialecto chamado memória, numa nação chamada infância”. O mesmo deve achar Benny Sings que no seu primeiro album para a Stones Throw Records, entitulado City Pop, faz uma ode a essa catarse inspiracional. Tal qual o seu álbum Studio de 2015, City Pop celebra a colaboração, desta feita com Hawthorne, Cornelius, Sukimaswitch (o “Steely Dan” japa), Mocky e Faberyayo. Fiel ao nome do álbum, várias cidades deste nosso mundo desempenham um papel de destaque no diálogo musical e lírico, servindo de pano de fundo para o (re)contar dessa luta em tempo real que o amor trava diáriamente sob múltiplas formas: boas, más; romântico e realista; épico ou em pequena escala; absolutamente surprendente ou mega familiar. O resultado: uma coleção de canções de amor tão íntimas quanto universais.

Por outro lado deixo o reverso da moeda, poemas e melodias onde se cantam outras des(aventuras) citadinas: onde a dupla Psychemagik pode apresentar um re-edit de uma versão hebraica de Walk on the Wild Side enquanto Morris Day dos The Time se pavoneia num simples The Walk (palavra que na gíria anglo-saxónica estará sempre ligada à prostituição, daí que Reed nem sequer precisava de lhe atribuir um adjectivo circunstancial). Day, protégé/rival de Prince tem nestes nove minutos e meio tempo para fazer um grande filme “esquizo” à volta da sua Minneapolis: “-how do I look? Almost as good as me! – Eh Maurice who’s the lovely lady, introduce us. – I’ll introduce you to a headache if you don’t get out of my face!”. E em volta disto anda toda esta selecção musical, se Ena Pá 2000 e Luisa Sobral cantam sobre a “luminosa” Paris é para deixar Hamilton Bohannon, Emilio Santiago, Bobby Darin, os Ad Libs e Grace Jones versarem sobre assuntos da Big Apple enquanto Hiroshi Sato e os The Sadistics remetem o seu olhar oblíquo sobre Tóquio…

Pelas brechas geográficas decidi pegar em variados temas que relacionamos à azáfama urbana: um Nervous Breakdown por Wanda Jackson ou um Bad Life dos PIL, o resto não conto para haver alguma surpresa. Digo só que fazendo juízo da ideia protelada vezes sem conta pelo Ol’ blue eyes Sinatra começo com This City Never Sleeps dos Eurythmics, canção que culmina o LP Sweet Dreams (Are Made Of This) mas reconhecida como “aquela música” da BSO de 9 1/2 Weeks, pornochachada que Adrian Lyne realizou em 1986 e acabo com Too much Monkey Business interpretado pelos The Satins com Fernando Conde assim em estilo de piscar de olhos ao que estou a preparar para a próxima semana.

Este fim de semana olhem bem à volta, cada edifício na sua majestosa brutalidade é como uma segunda pele que nos veste à noite e nos resguarda durante o dia deste sol de Inverno.

#staysafe #musicfortheweekend

##############################

I start the year with a musical triptych dedicated to three different figurative senses that will situate the action taken.

I choose the word “exodus” as a starting point because each and every flow is a path, a road. From the Greek ἔξοδος, the etymology points to an exit, meaning a way out that in fact is not conceivable without a course or a trail. A passage in the parting of the waters like that which is outlined in the “second” book of the Bible and which, however, for the most learned minds of the matter, points not to Moses ordeal but to an older event, the “Babylonian exile” that happened in VI BC and came to be told verbally over time to different Jewish generations.

So I kick off with the concept of urban flow, I as someone who has always enjoyed the city orbit, however always raising certain types of questions such as “what makes someone set up permanent camp at the foot of a volcano and so erecting a place like Pompeii?”. If not to help each other then what is the real reason for a city? City (note the capital letter) where I always revised myself and where I lived most of my life. This petit mot that defines something much bigger, the word “city” rhymes with gritty and plasticity but also makes verse with charity and sensitivity. Like dens of emotional complexity and experiential difficulties the great cities of the planet are like a social petri dish where chaotically anything can happen.

And we have to feel thankfull for this… for the part that touches us in the 40 songs selected this week. Urban sounds, made in community and enjoyed since its inception (should I say Genesis to continue in biblical mode?) by very talented and sound people. When I lived in London in the 90s, I used to mingle with Carl McIntosh of Loose Ends fame, now here’s a guy who could only produce his music as an expedited and traveling urbanite. One of this week’s choices features him. Or Martine Girault, of whom I recall her 1997 revision of Swing out Sister songs, which she called S.O.U.L (The Sound of Urban London).

So what makes the city such an inspiring musical muse? Eça de Queirós thought that the most genuinely human feelings soon get dehumanized in this place we call the city. However, the city is not a place. According to Mia Couto “it is the frame of a life. The frame looking for a portrait, that’s what I see when I revisit my birthplace. It is not streets, these are not houses. What I review is a time, what I hear is the speech of that time. A dialect called memory, in a nation called childhood ”. The same must be felt by Benny Sings who on his first album for Stones Throw Records, entitled City Pop, makes an ode to this inspirational catharsis. Like his previous album Studio from 2015, City Pop celebrates collaboration as a way of creation, this time with Hawthorne, Cornelius, Sukimaswitch (Japan’s “Steely Dan”), Mocky and Faberyayo. True to the name of the album several cities in this world of ours play a prominent role in the musical and lyrical dialogue, serving as a backdrop for the (re) telling of this real-time struggle that love wages daily in many multiple forms: good, bad ; romantic and realistic; epic or small-scale; absolutely surprising or mega familiar. The result: a collection of love songs as intimate as they are universal.

On the other hand, I also point to the reverse of the coin, poems and melodies where other city des(adventures) are sung: where the pair Psychemagik can present a re-edit of a Hebrew version of Walk on the Wild Side while Morris Day of The Time strutts in a simple The Walk (a word that in Anglo-Saxon slang will always be linked to prostitution, hence Reed did not even need to use in his title a circumstantial adjective). Prince’s protégé and rival, Day has these nine and a half minutes to make a great “schizo” film around his Minneapolis: “-how do I look? Almost as good as me! – Eh Maurice who’s the lovely lady, introduce us. – I’ll introduce you to a headache if you don’t get out of my face! ”. And all these choices turn around things of this caliber, if Ena Pá 2000 and Luisa Sobral sing about “luminous” Paris it is to let Hamilton Bohannon, Emilio Santiago, Bobby Darin, the Ad Libs and Grace Jones talk about Big Apple subjects while Hiroshi Sato and The Sadistics turn their oblique gaze at Tokyo…

Between al the geographic shreds, I decided to take on various themes normally related to the urban bustle: a Nervous Breakdown by Wanda Jackson or a Bad Life by PIL, the rest I keep to myself as to not spoil the surprise. I’ll just say that making judgment of the idea postponed time and time again by Ol ‘blue eyes Sinatra I start with This City Never Sleeps by Eurythmics, a song that culminates their Sweet Dreams (Are Made Of This) LP but recognized as “that song” from the OST of 9 1/2 Weeks, softcore trite that Adrian Lyne made in 1986 and I come to a grinding halt with Too much Monkey Business interpreted by The Satins with Fernando Conde as a wink to what I’m already preparing for next week’s M4we.

This weekend look around, each building in its majestic brutality is like a second skin that dress us at night while protecting during the day of the cold winter sun.

#staysafe #musicfortheweekend

Eurythmics – This City Never Sleeps

Psychemagik – Walk On The Wild Side

Sarah Vaughan – Whatever Lola Wants (Lola Gets)

Leslie Kent – Inner City Blues

Ad Libs – The Boy From New York City

Ena Pá 2000 – Paris, What A City

Marilyn Monroe – Running Wild

Bonzo Dog Band – I’m The Urban Spaceman

Jaqui & Jeanette – 194 Radio City

Hiroshi Sato – Say Goodbye

Madvillain – All Caps

Amon Düül II – Wolf City

Céu – Coreto

Benny Sings – Softly (Tokyo)

Leonhardt and his Orchestra – Soul Of A City

Pablo – Turn The Page

Quincy Jones – I Heard That !

Hamilton Bohannon – Take The Country To New York City

Public Image Limited – Bad Life

Martine Girault – Sound Of Urban London

Azymuth – Montreal City (Volcov Remix)

Luisa Sobral – I Was In Paris Today

The Time – The Walk

Grace Jones – Am I Ever Gonna Fall In Love In New York City

Emilio Santiago – O Amigo De Nova York

Bobby Darin – Sunday In New York

Lovin Spoonful – Summer in the City

Sheb Wooley – Skin Tight, Pin Striped, Purple Pedal Pushers

Skylarks – There Must Be a City

Charlie Chaplin – Afternoon (From ‘City Lights’)

Carlos do Carmo ‎– Um Homem Na Cidade

Wanda Jackson – Nervous Breakdown

Mandrill – Fat City Strut

Nat King Cole – I’m Shooting High

The Sadistics – Tokyo Taste

Avani feat. Rahsaan Patterson & Carl McIntosh – Watching You

Joe Bataan – Latin Strut

LCD Soundsystem – Yr City Is a Sucker (London Session)

Piry – Heroi Moderno

The Satins com Fernando Conde – Too much Monkey Business

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *