#046
Naming Day in Eden Pt02 (J – Z)
Decerto numa car boot sale, mas em parte incerta dos anos que vivi no Reino Unido, um dia descobri um livro sobre nomes que inspirou o conceito da pesquisa musical destas duas semanas. O titulo desse livro, Naming Day in Eden, serviu para nomear uma escolha de 80 músicas das quais apresento aqui a segunda parte.
Como já havia explicado na semana passada a proeminência de “Joões” levou a fazer a separação desta escolha na letra J. Andei sempre a tentar escapar à tendencia de apadrinhar tanta canção com esse nome mas mesmo assim há sempre coisas que não dá para evitar. Como por exemplo a “big music” concebida por Mike Scott em 1983 quando os Waterboys deram à costa de Edinburgh, A Girl Called Johnny misturava rock e folk numa celebração pagã que Scott descreveu um dia como “a metaphor for seeing God’s signature in the world”. O único “verdadeiro membro” da banda que não vê diferença entre esta e o seu trabalho a solo, será que este ano ainda o conseguimos ver no North Music Festival na Alfândega do Porto?
Nestas andanças da nomeação identitária os portugueses estão a ganhar e esta semana comprova-se essa afirmação. Cid com os Quarteto 1111 em Dona Vitória; o Duo Ouro Negro de Raul Indipwo e Milo MacMahon com Au Revoir Sylvie; o Conjunto Academico Joao Paulo que picam o ponto em repetido para Sue Lin; os Peste & Sida com Paulinha, uma Sahida gravada pelos Heróis do Mar no album Macau e Camané com Mário Laginha num Ai Margarida que no mesmo dia em que faço este post sobem finalmente a um palco que já lhes foi adiado várias vezes desde que estas tribulações começaram o ano passado.
Deixo aqui um link de Mário Laginha a contar como criou esta maravilhosa canção:
Ai, a importância de se chamar Ernesto… O nome de Élie Pierre Barouh pode não estar no topo do reconhecimento artistico actual no entanto o parisiense nascido em 1934 de descendência turco-judaica ficou conhecido ainda cedo pela sua importância no filme Un homme et une femme realizado em 1966 por Claude Lelouch, como actor e como letrista para a banda sonora assinada por Francis Lai. Activo na divulgação da bossa nova em terras europeias, Barouh fundou por volta dessa altura a editora Saravah que trouxe ao mundo o conhecimento de artistas seus conterrâneos como Jaques Higelin, Brigitte Fontaine e Allain Leprest. Em 1982 embarcou para Tóquio, onde com ajuda da fina flor musical nipónica gravou Le Pollen, que foi agora re-editado e como fui buscar a minha cópia à nova Flur a semana passada daí extraí Pépé, onde é notória a confluência das sonoridades da city pop com a bossa. Disco incontornável que definitivamente dá kudos aos suíços da We Release Whatever The Fuck We Want Records.
A semana passada comentei como a canção Caroline dos Free Fantasy não mencionava uma única vez a rapariga visada. Pois esta semana há outra, desta feita dos Squeeze, uma das bandas pop mais tradicionalistas da new wave, ligando assim a pop rock clássica britânica com guitarras e o pós-punk. Inspirados pelos Beatles e os Kinks, os Squeeze eram veículo para as composições de Chris Difford e Glenn Tilbrook, tidos na altura como os herdeiros do trono de Lennon e McCartney. Nos Squeeze tocava também o conhecido Jools Holland mas o seu estilo de piano mais boogie-woogie não assentava bem nas ambições sonoras da dupla criativa e este terceiro album, Argybargy, seria o cartão de despedida. A canção aqui escolhida, Vicky Verky, foi um sucesso nas college radio americanas mas o craftmanship da banda nunca se traduziu para as tabelas de vendas transatlânticas.
Esta selecção de baptismos na pop estaria incompleta sem outros nomes de reputação comprovada: a seguir à canção dos Peste & Sida só podia vir um Pedro e por isso fui repescar Mel Young a gravar em 1966 para as livrarias da Chappel Pedro Goes To Town, imediatamente encarrilado com um outro incontornável instrumental, Linus and Lucy, clássico toon tune que Vince Guaraldi concebeu para musicar os Peanuts de Charles Monroe “Sparky” Schulz. O filme para o qual esta música foi escrita é A Boy Named Charlie Brown que estreou em 1969. Foi nomeado para Oscar de Best Original Song Score mas acabou por perder para Let it Be dos Beatles.
Mas se é de reputação que se trata então que tal este nome que aparece em duas certidões? Repare-se como também em fila indiana acabaram por ficar Sandra’s Song (I Felt The Care) dos mui sui generis Talc, dupla composta por James Knight e Nichol Thomson seguidinhos de Leo Graham num dub dedicado a My Little Sandra.
Acabo com Cortijo & Su Combo a servirem de suporte para Ismael Rivera fazer uma dedicatória a Maria Teresa, tudo em jeito de ponto final e seta que aponta para o que vem nesta direcção para a próxima semana.
Cuida em procurar para ti uma boa reputação, pois esse bem te será mais estável que mil tesouros grandes e preciosos.
Eclesiastico 41:15
#staysafe #musicfortheweekend
##############################
Certainly in a car boot sale, but in part uncertain of the years I lived in the UK, one day I discovered a book about names that inspired the concept of the musical research of two weeks in a row. The title of this book, Naming Day in Eden, served to name a choice of 80 songs of which I present today the second part.
As I explained last week, the prominence of “Johns” led to the separation of this selection at the turning point of the letter J. I’ve always tried to escape the tendency to sponsor so many songs with that name but even so there’s always things you can’t avoid. As for example the “big music” conceived by Mike Scott in 1983 when the Waterboys hit the coast of Edinburgh, A Girl Called Johnny mixed rock and folk in a pagan celebration that Scott once described as “a metaphor for seeing God’s signature in the world”. The only “real member” of the band that never saw any difference between this and his solo work, will we still be able to see him at the North Music Festival at Alfândega do Porto later this year?
In these musings about identity nomination the Portuguese are clearly winning and this week proves this statement. Cid with Quarteto 1111 in Dona Vitória; the Duo Ouro Negro of Raul Indipwo and Milo MacMahon with Au Revoir Sylvie; the Conjunto Académico João Paulo that repeat punching the clock out, this time for Sue Lin; Peste & Sida with Paulinha, a Sahida recorded by Heróis do Mar on the album Macau and Camané with Mário Laginha sighing an Ai Margarida, on the same day I do this post they finally go up on a stage for a concert that has been postponed several times since these tribulations started last year… If you do understand Portuguese please check the link above of Mário Laginha telling how he created this wonderful song.
Ah, the importance of being Earnest… The name of Élie Pierre Barouh may not be at the top of the current artistic recognition however the Parisian born in 1934 of Turkish-Jewish descent was known early on for his importance in the film Un homme et une femme directed in 1966 by Claude Lelouch, as an actor as well as lyricist for the soundtrack signed by Francis Lai. Active in the dissemination of bossa nova in European lands, Barouh founded around that time the record inprint Saravah that brought to the world the knowledge of fellow artists such as Jaques Higelin, Brigitte Fontaine and Allain Leprest. In 1982 he embarked for Tokyo, where he, with help of some of the Japanese musical elite, recorded Le Pollen which has now been re-published and as I went to get my copy from the new Flur shop last week, I extracted Pépé, where we can hear a visible sonic confluence of city pop with bossa. An unmissable record that definitely brings kudos to the Swiss from We Release Whatever The Fuck We Want Records.
Last week I commented how the song Caroline from Free Fantasy didn’t mention even once the “targeted” girl. For this week there is another one of this ilk, this time by Squeeze, one of the most traditionalist pop bands of the new wave, thus linking classic British guitar driven pop rock and post-punk. Inspired by the Beatles and the Kinks, the Squeeze were a vehicle for the compositions of Chris Difford and Glenn Tilbrook, considered at the time as the heirs to the throne of Lennon and McCartney. Part of Squeeze’s roster was also well-known Jools Holland, but his more boogie-woogie piano style did not fit well with the creative duo’s sound ambitions and this third album, Argybargy, would be their farewell card. The song chosen here, Vicky Verky, was a hit on American college radio but the band’s craftmanship never translated well into the transatlantic sales charts.
This selection of baptisms in pop would be incomplete without other names with a proven reputation: after Peste & Sida’s song there could only be one Pedro, so I went to pick Mel Young recording in 1966 for Chappel library discs Pedro Goes To Town, immediately matched with another compelling instrumental, Linus and Lucy, classic toon tune that Vince Guaraldi conceived as music to Charles Monroe’s “Sparky” Schulz’s Peanuts. The film for which this song was written is A Boy Named Charlie Brown which premiered in 1969. It was nominated for an Oscar for Best Original Song Score but ended up losing to the Beatles’ Let it Be.
But if it’s about reputation I’m going for here then what about this name that appears on two certificates? Notice how also in a single file ended up Sandra’s Song (I Felt The Care) by Talc, a highly sui generis duo composed by James Knight and Nichol Thomson followed by Leo Graham in a dub dedicated to My Little Sandra.
I end up with Cortijo & Su Combo serving as a support for Ismael Rivera making a dedication to Maria Teresa, all in the form of a full stop as well as a arrow that points to what’s coming towards us next week.
Have regard to thy name; for that shall continue with thee above a thousand great treasures of gold.
Ecclesiasticus 41:15
#staysafe #musicfortheweekend
The Waterboys – A Girl Called Johnny
Fats Domino – Lovely Rita
Wai Kop – Lola
Quarteto 1111 – Dona Vitória
Robert Cotter – Mary’s House
Harry Belafonte – Matilda
Millie – Sweet William
Empresarios – Maria Juana (Fort Knox Five Remix)
Squeeze – Vicky Verky
Connie Francis – Valentino
Duo Ouro Negro – Au Revoir Sylvie
Richard Berry And The Pharaohs – Louie Louie
Elio Cipri – Mafà…Mafàlda
Skip Mahoney – Janice (Don’t Be So Blind To Love) (Bobby DJ Guttadaro Remix)
Elis Regina – Maria do Maranhão
Player – Melanie
The Cuff Links – Tracy
Conjunto Academico João Paulo – Sue Lin
Helen Grayco – Lilly’s Lament (Cell 29)
Talc – Sandra’s Song (I Felt The Care)
Leo Graham – My Little Sandra
Brian Eno – Kurt’s Rejoinder
Heróis do Mar – Sahida
Don Byas’ and Orchestra – Nancy
The Brotherhood of Man – My sweet Rosalie
Anna Lunoe & Wordlife – Tom’s Diner
10cc – Johnny, Don’t Do It
Camané – Ai Margarida
Sink Ya Teeth – Stella
Daniel Delord – Maria
Bram Tchaikovsky – Sarah Smiles
Chavela Vargas – Negra Maria
The Undisputed Truth – Big John Is My Name
Gnoomes – Maria
Peste & Sida – Paulinha
Mel Young – Pedro Goes To Town
Vince Guaraldi Trio – Linus And Lucy
Pierre Barouh – Pépé
Andrew Wartts and The Gospel Storytellers – Peter and John
Cortijo Y Su Combo con Ismael Rivera – Maria Teresa