#067

Great Stuff

(bought for fifty pence or a quid)

Há muitos anos atrás colaborei em vários periódicos jornalísticos. Avistava-se o final dos 80s e eu ainda não tinha debandado para Londres. Tinha feito parte da incepção do caderno 3 do Independente mas quando saiu o #2 já eu estava no Mais, separata do Semanário. Mais tarde fui para o Se7e e foi aí que um dia deparei com algo que me trouxe assim um pouco de fervura ao sangue: numa das recentemente criadas “revistas femininas” estava toda uma produção de moda em que o custo da roupa toda somada era exorbitante, para não dizer pornográfico. No mesmo dia lancei-me a produzir uma video reportagem em que a manequim só envergava roupa de feiras, da de Carcavelos e da Ladra.

Lembrei-me desse episódio porque tenho reparado com algum desagrado na produção de “chamadas de atenção” no Discogs para os mais caros discos vendidos naquele que é possivelmente o maior mercado discográfico de discos usados. Coisas do género “Top 30 Most Expensive Items Sold on Discogs” ou “Which Country Has The Most Expensive Music?”. Vou ser muito sincero, dá mesmo vontade de bater em alguém… principalmente nesta altura natalícia. Talvez mesmo por isso que me aventurei a ir buscar ao baú 40 pérolas que foram adquiridas por aqui e acolá, em vinil, em CD e até mesmo em digital mas tudo em modo “pechincha”. Não é cá negócios de cavalo dado ao qual não se olha o dente. Não. Foram frutos de buscas no dito Discogs, leilões no eBay, barganhas num qualquer z seller na Amazon, frutos de um qualquer affaire occasionnelle num marché aux puces ou mesmo pequenas graças divinas num car boot sale de um normal e inconsequente parque de estacionamento em Edinburgo…

Começo com Over And Over de Sylvester. Originalmente editado em 1977, Over and Over foi o segundo single do terceiro LP gravado pelo músico nascido em Watts. Este disco é o primeiro gravado para a Fantasy Records já que antes havia editado dois como Sylvester And The Hot Band para a Blue Thumb. Depois de Down, Down, Down ter chegado à décima oitava posição da Dance chart da Billboard este segundo single, escrito pela dupla Ashford & Simpson, não causou nenhum tipo de sensação nas tabelas de vendas. Vai-se lá saber porquê, é de longe uma das melhores canções que a disco produziu, num permanente ambiente de festa, diria quase live. Maravilhoso como no entanto os franceses pegaram neste tema muito tempo antes de virar um curioso caso de sucesso póstumo tendo com ele dado inclusive titulo à edição francesa do album. Mais à frente ainda escolhi mais uns quantos temas do tempo da disco, como o inigualável Hot Shot gravado por Karen Young para a West End Records em 1978 e que eu tanto dancei nesse mesmo ano. Mas tenho de admitir que nada chega aos calcanhares do tema de Sylvester.

Sigo com Caterina Valente e Un P’tit Beguin, escrito originalmente como A Little Love por Richard Besoyan para a sátira musical Little Mary Sunshine, posteriormente um clássico da Broadway. De Ralfi Pagan com To Say I Love You passo para Rupa Biswas Sen e Aaj Shanibar, gravado no disco Disco Jazz em 1982. Rupa é hoje uma alegre e bem disposta dona de casa que nem sequer compreende lá muito bem a divinização à volta do seu único disco. Por outro lado Pagan foi um cantor de descendência cubana e porto-riquenha, assassinado em 1978 quando numa digressão como substituto de Joe Bataan, colega seu na Fania Records. Antes de ir em tour, Pagan visitou a casa de Eddie Torres para lhe contar ter aceite esse gig na Colômbia. Eddie disse-lhe que tinha um mau pressentimento sobre essa viagem e aconselhou-o a não ir. A família de Ralfi Pagan foi posteriormente informada do seu corpo ser encontrado numa praia à mistura com o rumor de que um promotor local havia mandado despacha-lo desta para melhor para assim evitar o pagamento do cachet combinado. Nem que de propósito mais à frente escolhi Lay It On Me, cantado por Sylvia Robinson com quem Pagan havia gravado o dueto Soul Je T’aime em 1973.

Tenho de admitir que estas m4we mais freestyle são do meu agrado. As escolhas e sequenciações de temas são mais alucinantes, mesmo como eu gosto. Assim passo de um Wooly Bully pelos Osibisa para Eight Seven Seven, um obscuro e espaciótico jazz funk gravado em 1979 por Alex Cima no LP Cosmic Connection. Só mesmo deste modo é que consigo fazer um grand slam encetado num Reach For It (Dance) de George Duke, passando para The Unconventional de uns Japan nos tempos mais glam do seu primeiro disco, Adolescent Sex, gozando umas Férias em companhia dos Corpo Diplomático e concluíndo num slam dunk com Tighten Up (Japanese Gentlemen Stand Up Please) dos Yellow Magic Orquestra. Este ultimo foi adquirido na primeira vez que me meti num leilão no eBay. Trabalhava na altura em publicidade e de repente vi a edição americana promocional datada de 1980 mencionada numa venda que não era directa, ou seja tinha mesmo de licitar. Assim o fiz e assim o arrebatei no ultimo minuto, oferecendo mais 50 centimos.

Quase todas as vezes que uso esse 12” dos YMO numa pista de dança lembro-me desta história e isso enche-me o ego, do estilo “fui eu que consegui ficar com este disco”. Compreendo isso. Ponto. Não me revejo nas história de conseguir discos caros, como aquelas pessoas que andavam atrás dos Yeezy quando uma edição especial saía para o mercado. A música a mim só me aquece os pés numa (hoje um pouco esquecida) pista de dança. A música que compro dá-me um calor em todas as outras partes do meu corpo. Ok, admito até compreender a engrenagem mercantilista de oferta-e-procura que move o disparatado custo de algumas coisas que gostaria de ter mas decidi não pactuar com isso.

Há uns anos atrás um vendedor holandês no Discogs disse-me que tinha mais 2 cópias de um 12” do Goodnight Tonight dos Wings que eu lhe estava a comprar. Automaticamente percebi onde ele queria chegar, um para mim e mais dois para investimento. É assim que os coleccionadores funcionam, “carburando” o negócio ao comprarem múltiplas cópias que servem de “gasolina” para alimentar a algo dispendiosa combustão das suas obsessões musicais. Not me. no sireee. Quero música da qual gosto tanto que me enche a alma e que de preferencia não me esvazia a carteira. Quero e adoro música única, não formulaica, plena de mistério e ilusão, que me faz dançar e chorar, rir por vezes enquanto outras contemplativo e inspirado pela beleza que me demonstra. Sensação de redenção que não encontro noutros meios… na música que ouço é Natal todos os dias.

Have you been good the way you should

On ev’ry single day?

É talvez por isso, para ser discretamente obtuso, blunt diriam os bifes, que escolho os dois temas com que encerro a selecção desta semana. Upstairs By a Chinese Lamp da mega talentosa Laura Nyro, gravado no disco Christmas And The Beads Of Sweat. Já apontei foco sobre esta cantora por isso não me vou repetir. Pesquisem, vale a pena descobrir esta autora justamente honrada ao ser reconhecida em 2010 no Songwriters Hall of Fame e dois anos depois no Rock and Roll Hall of Fame.  E encerro com o menos conhecido clássico natalício When Santa Claus Gets Your Letter, cantado por Anne Lloyd and the Sandpipers e escrito por John David “Johnny” Marks, um verdadeiro craque das canções de Natal, apesar de ser judeu e não celebrar propriamente esta festa.

Já que comecei esta m4we em total oposição aos “vendilhões do templo” deixo aqui alguns números de fazer corar ou chorar cristãos e pagãos: em 1980 a canção mais famosa de Marks, Rudolph, the Red-nosed Reindeer, fornecia-lhe mais de 75 por cento do seu rendimento anual de $ 800.000. Mas ele também ganhava muito bem com algumas das suas outras carols, I Heard the Bells on Christmas Day (sete milhões de discos vendidos), Rockin ‘Around the Christmas Tree (single de ouro para Brenda Lee) e A Holly Jolly Christmas interpretado por Burl Ives (oito milhões). Mas nenhuma destas canções “chega aos cascos” de Rudolph, 131 milhões de discos vendidos em mais de 30 idiomas desde que Gene Autry a gravou pela primeira vez em 1949, sem mencionar sete milhões de cópias da partitura e 25 milhões de cópias de 140 arranjos para orquestra, banda e coro. A nível natalício só mesmo as vendas de White Christmas superam estas  números.

Que o fim de semana seja de cordialidade familiar.

#staysafe #musicfortheweekend

##############################

Many years ago I collaborated with several journalistic periodicals. The end of the 80s was in sight and I still hadn’t left to live in London. I had been part of the inception of section 3 of Independente, but when #2 came out I was already on Mais, offprint of the weekly Semanário. Later I went on to Se7e and that’s when one day I came across something that kind of boiled my blood: in one of the recently created “women’s magazines” there was a whole fashion editorial in which the cost of the clothes added together was exorbitant , not to say pornographic. On the same day I started to produce a videographic shoot in which the model only wore clothes from fairs, more specifically those of Carcavelos and Ladra.

This episode came to my mind because I’ve noticed with some dislike the proliferation of recommendations (digs) in what’s possibly the biggest record market for used records, Discogs. Things like “Top 30 Most Expensive Items Sold on Discogs” or “Which Country Has The Most Expensive Music?”. I’ll be very honest, it really makes you want to hit someone… especially at Christmas time. Maybe that’s why I ventured to get 40 pearls out of the trunk that were acquired here and there, on vinyl, on CD and even on digital, but all in “bargain” mode. Not like I went looking a “gifted horse” in the mouth. No. All this was the result of searches on said Discogs, auctions on eBay, bargains by any z seller on Amazon, the fruits of some affaire occasionnelle in a flea market or even small divine graces from a car boot sale in some sort of otherwise inconsequential car park in Edinburgh…

I start with Sylvester’s Over And Over. Originally released in 1977, Over and Over was the second single from the third LP recorded by the Watts-born musician and the first to be recorded for Fantasy Records as he had previously published two as Sylvester And The Hot Band for Blue Thumb. The album’s first single, Down, Down, Down, reached the 18th position on the Billboard Dance chart but this second one, written by the Ashford & Simpson duo, did not cause any kind of sensation in the sales charts. Who knows why, it is by far one of the best songs produced in the disco era, with a permanent party atmosphere, one would say almost “live”. Wonderful how the French picked up this tune much before it became a curious posthumous success story,  even naming the French edition of the album with it’s title. A bit later in the mix I chose a few more disco songs, like the unique Hot Shot recorded by Karen Young for West End Records in 1978 and which I danced so many times that same year. But I have to admit that nothing comes close to Sylvester’s song.

I follow with Caterina Valente and Un P’tit Beguin, originally written as A Little Love by Richard Besoyan for the musical satire Little Mary Sunshine that later became a Broadway classic. I move from Ralfi Pagan with To Say I Love You to Rupa Biswas Sen and Aaj Shanibar, put out in 1982 on the Disco Jazz LP. Rupa is now a happy and cheerful housewife who doesn’t even understand very well the deification around this treasured record. On the other hand, Pagan was a singer of Cuban and Puerto Rican descent, murdered in 1978 while on tour as a replacement for Joe Bataan, his colleague at Fania Records. Before going on that tour, Pagan visited his friend Eddie Torres to tell him he had accepted this gig in Colombia. Eddie told him he had a bad feeling about this trip and advised him not to go. Ralfi Pagan’s family was later informed of his body being found on a beach mixed with rumours that a local agent had ordered him “dispatched” so he could avoid paying the agreed wages. A bit later in the mix I chose Lay It On Me, sung by Sylvia Robinson with whom Pagan had recorded the duet Soul Je T’aime in 1973.

I have to admit that any freestyle m4we is much more my kind of stuff. Song choices and segues are more mind-blowing, bombastic, just the way I like it. That way I can jump from Wooly Bully by Osibisa to Eight Seven Seven, an obscure and spacey jazz funk recorded in 1979 by Alex Cima on the Cosmic Connection LP. Only when on a more loose free mode I’m able to make a grand slam that starts with George Duke’s Reach For It (Dance), moves to The Unconventional by a Japan around the more (glam)orous times of their first album, Adolescent Sex, vacations with Corpo Diplomatico’s Férias and concludes in a slam dunked Tighten Up (Japanese Gentlemen Stand Up Please) by The Yellow Magic Orchestra. The latter was purchased the first time I entered an eBay auction. I was working in advertising at the time and suddenly I saw the American promotional edition dated 1980 mentioned in a sale that was not direct, in other words I had to bid. And so I did, and so I snatched it, offering 50 cents more at the last second.

Almost every single time I use this YMO 12” on a dance floor I remember this story and it fills my ego, the “I was the one who managed to get it” style of stuff. I understand that “victorious” pov. I don’t see myself getting expensive records, just like I don’t understand those people who go after certain Yeezys when a special edition comes out. Music to me only warms my feet on a (now somewhat forgotten) dance floor. The music I buy heats every other parts of my body. Okay, I admit to understand the mercantilist supply-and-demand gear that drives up the crazy value of some things I’d like to have, but I’ve decided not to go along with this state of affairs.

A few years ago a Dutch seller at Discogs told me he had 2 more copies of a Goodnight Tonight 12” by the Wings that I was buying from him. I automatically realized where the conversation was headed, one for me and two more for investment. That’s how collectors work, “carburising” their business by buying multiple copies that serve as “gasoline” to fuel the somewhat expensive combustion of their musical obsessions. Not me. no sireee. I want to have music that I love so much that it fills my soul and preferably doesn’t empty my wallet. I want and adore unique music, not at all formulaic, full of mystery and illusion, which makes me dance, cry and laugh sometimes, while also making me contemplative and inspired by the beauty it exudes. A feeling of redemption that I don’t find in other media… in the music I hear it’s Christmas every day.

Have you been good the way you should

On ev’ry single day?

Maybe that’s why, to be discreetly obtuse, almost bluntly straight forward, I choose the two songs with which I close this week’s selection. Upstairs By a Chinese Lamp recorded by mega-talented Laura Nyro on the album Christmas And The Beads Of Sweat. I’ve already focused on this singer so I won’t repeat myself. Search for her stuff, it’s worth discovering this author rightly honoured to be recognised in 2010 in the Songwriters Hall of Fame and two years later in the Rock and Roll Hall of Fame. And I close with the lesser-known Xmas classic When Santa Claus Gets Your Letter, sung by Anne Lloyd and the Sandpipers and written by John David “Johnny” Marks, a true ace in the Christmas carols department, despite being Jewish and not really celebrating this season like us.

Since I started this m4we in some kind of “cleansing of the Temple” mode here are some numbers that can make Christians and pagans alike blush or cry: in 1980 Marks’ most famous song, Rudolph, the Red-nosed Reindeer, provided him with over 75 percent of your $800,000 annual income. But he also did pretty well with some of his other festive songs, I Heard the Bells on Christmas Day (seven million records), Rockin’ Around the Christmas Tree (golden single for Brenda Lee) and A Holly Jolly Christmas played by Burl Ives (eight million). But none of these songs hit Rudolph’s shells, 131 million records sold in more than 30 languages since Gene Autry first recorded it in 1949, not to mention seven million copies of the sheet music and 25 million copies of 140 arrangements for orchestra, band and choir. On a Christmas level, only the sales of White Christmas surpass these numbers.

May the weekend be one of family friendliness.

#staysafe #musicfortheweekend

Sylvester – Over And Over (Kon Find A Friend Remix)

Caterina Valente – Un P’tit Beguin

Ralfi Pagan – To Say I Love You

Rupa Biswas – Aaj Shanibar

Osibisa – Wooly Bully

Alex Cima – Eight Seven Seven

Corine – Pourquoi Pourquoi (Lazare Hoche Remix)

Carpenters – (They Long to Be) Close to You

Gilberto Gil – Palco

The Temptations – Ain’t Too Proud to Beg (Pinot Filter Vintage Re-Love)

Brandye – I Love The Way You Love

George Duke – Reach For It (Dance)

Japan – The Unconventional

Corpo Diplomático – Férias

YMO – Tighten Up (Japanese Gentlemen Stand Up Please)

LOVERDOSE – Doors In The Storm

Rita – Super Erotica

Herb Alpert – Rise (Late Nite Tuff Guy Mix)

Orchestral Manoeuvres in the Dark – Almost

Bob Dylan – She Belongs to Me (Rosa Lux Belongs Edit)

Dana Gillespie – Foolish Seasons

Sneaker Pimps – 6 Underground (Fila Brazilia Remix)

France Gall – J’ai Besoin d’Amour (S3A Edit)

Mim Suleiman – Presha Kuka

Führs & Fröhling -Happiness

The Mickey Finn – Garden of My Mind

Siouxsie and the Banshees – Dear Prudence

Solomon Burke – Maggie’s Farm

The Joubert Singers ‎– Stand On The Word

Aretha Franklin – (Sweet Sweet Baby) Since You’ve Been Gone

Tunnel – Tunnel Lights

Sylvia – Lay It On Me

Minty ‎– Plastic Bag

Karen Young – Hot Shot

Antares – Arabian Dance

Charles Bradley – Can’t Stop Thinking About You

Truth – Coming Home

Tony Scott & The Indonesian All-Stars – Burungkaka Tua

Laura Nyro – Upstairs By a Chinese Lamp

Anne Lloyd and the Sandpipers – When Santa Claus Gets Your Letter

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *