#081

Triple bill: 01 – Sexo

Esta semana começo uma dose tripla de pop baseada na antiquíssima premissa que começa no sexo, passa pelas drogas e acaba no roque&rol.

Adoro sessões triplas, existem na minha vida desde que eu me lembro, principalmente relacionadas com cinema mas olhando em retrospectiva sempre que tenho de fazer decisões ligadas à música, sempre que tenho de agrupar coisas distintas em “gavetas” sirvo-me desta estranha condição de ver relações possíveis, inter-paridades em canções, agrupando-as de outras formas do que as que vinham no livrinho de instruções…

O tema desta semana não é complicado. Juntamente com a “dor de corno” serve de combustível criativo desde os primórdios da musica popular. E talvez por isso vem em muitos formatos, pode ser um sentimento que estremece a alma ou um frenesim no prelimpimpim. And everything in between.

Na cama, no sofá, ao ar livre ou no carro, a pop canta o encontro carnal, com double entendres ou mesmo explicitamente, é à vontade do freguês, do artista e das moralidades vigentes na época de edição. O que há 20 anos era considerado picante não faz nem revirar uma pálpebra hoje em dia.

Escolhi lógicamente alguns dos suspeitos do costume: Barry White claro, aqui com o seu estatuto de ladies man sobejamente bem defendido com I’m Gonna Love You Just A Little More, Baby; mas também Marvin Gaye com o inevitável Let’s Get It On; juntar o Gett Off de Prince sequencialmente a Sheila E. com A Love Bizarre não é nada mais que uma cama em Paisley Park feita “à espanhola” mas com colchão em tamanho king size, assim como um pouco mais à frente ao juntar Etta James com I Just Wanna Make Love To You ao I Want Your Sex de George Michael foi simples constatação do passar das décadas, “ambas as duas” canções eram vistas como sendo do mais raunchy possivel à época das suas publicações.

E em frente fui galopando, a trote, relinchando. Com Lovage – Sex (I’m A), que aparece em Music To Make Love To Your Old Lady By, edição de 2001 do único LP de Dan The Automator Nakamura e que aqui, ao lado de Mike Patton e Jennifer Charles, apresenta o disco como Nathaniel Merriweather presents Lovage, numa capa que faz homenagem ao segundo album de Serge Gainsbourg. No entanto a faixa que escolhi é uma versão de uma canção dos Berlin que em 1982 teria sido editada pela Geffen num maxi-single aptly titled 12 Inches Of “Sex…”.

Falando de Gainsbourg, muita coisa do bardo francês poderia ter sido sido para aqui chamada mas o que vem logo à cabeça é Je T’aime… Moi Non Plus, que para não bater no ceguinho decidi aqui incluir mas numa versão feita por Sven Väth em parceria com Miss Kittin em 2001. Mas ainda arranjei forma de catrapiscar outra, neste caso a nada-pouco-explicita Les Sucettes gravada por uma inocente France Gall e considerada risqué para a época como as destemidas seguintes linhas:

Lorsqu’elle n’a sur la langue

Que le petit bâton

Elle prend ses jambes à son corps

Et retourne au drugstore.

Pour quelques pennies, Annie

A ses sucettes à l’anis.

Continuando na senda do sexo oralizado a la française, dou prioridade a Ouvre La Bouche, Ferme Les Yeux, mais uma vez escrita por Gainsbourg mas desta feita para interpretação ainda mais explicita pela parte de Régine:

Pour gober leurs bobards dans les alcôves, la fois qui sauve, ça suffit pas

Encore faut-il un estomac solide, quand le cur vide on broie du noir

Ouvre La Bouche Ferme Les Yeux tu verras ça glissera mieux

Ouvre la bouche, ferme les yeux

Regine é muito bem para aqui chamada já que é a responsável pelo maior antro de engate existente ao cimo desta terra… a discoteca, quando em 1953 dans une petite boîte trocou a jukebox por dois gira discos. Era então o Whiskey A Go Go de Paris que ela administrou quando ainda só tinha 24 anos de idade e que seria blueprint para o seu Chez Regine, inaugurado no Quartier Latin em 1957 e percursor daquilo que viria a ser a maior parte de casas nocturnas por esse mundo fora.

Mas para que não se pense que os franceses levam a taça escolhi uma outra bem imbuída de evidentes sintaxes, escrita pela pena de Reininho y muchachos em Hardcore (1º Escalão), clássico aqui em Portugal ou em qualquer outra parte do mundo e que vi no antigo Ritz Club quando da estreia desta linda pornochanchada:

Mimi frenchy glass girl

She puts lipstick all over the world

I gave her the permit

For her french service

She licks, she sucks, she licks

“Que rico”, she licks, she sucks

Oh, she does it

Oh, she does it

Oh, you got to see it on streets

Ay, ay, ay, the Puerto-Rico show

The Great Gig in the Sky editada em 1973 é um forte argumento para quem defenda o uso de prog rock no quarto. Os Floyd começam devagar, vão crescendo de modo compassado até ao clímax dispostos a rebentar com as membranas das colunas, com a vocalista Clare Torry que grita, geme e gagueja numa alegria orgástica. Então, lentamente vai tudo voltando para um ritmo mais calmo enquanto Torry, aparentemente exausta, cai num sono feliz. Mas se isto é o bliss equivalente a um acto de “transcendental” sexo tântrico então o que vem logo a seguir, Jungle Fever, gravada no ano anterior é o correspondente musical a uma suada rapidinha numa casa de banho publica. Uma polirítmica jam mergulhada em licks latinos, flautas sintetizadas e mais uma catadupa de ofegantes gemidos e gritos extáticos de uma misteriosa mulher que está claramente a apreciar o que está a acontecer. Ao contrario dos big wigs da BBC que na altura baniram a faixa dos Chakachas, inadvertidamente dando-lhe uma notoriedade ainda mais sexy do que era suposto.

Começo com Susana Estrada em ¡gozame Ya! e acabo com Kumi Taguchi e エマニエル夫人. Ambas actrizes de dúbia reputação, a primeira conhecida como la musa del destape e a outra com um CV nas produções softcore nipónicas dos 70 de fazer corar qualquer outra barbi-gueixa de então. Em 2017 a Espacial Discos editou a compilação The Sexadelic Disco Funk Sound of… Susana Estrada enquanto que o disco onde fui arranjar a canção de Taguchi é a re-edição feita pelo selo Tiliqua Records, belgas sediados no Japão e que publicam as coisas mais inacreditáveis que se pode imaginar. Dois discos a descobrir, principalmente porque estão a muito bom preço no Discogs. Quase a chegar ao money shot passo ainda por duas coisas absolutamente dignas de destaque: Sex Starved Secretaries que o projecto Pornosonic gravou no final dos anos 90 com ou sem autorização de Ron Jeremy e, retirado da edição digital only de Crap Audio, Hot Girl por Mikel R. Nieto com Chocolate Babes Get Close, um dos poucos temas que não seria motivo de censura nos canais onde publico estas m4we. Nieto é um basco interessado nos aspectos socioculturais e politicos de como e o que ouvimos e aconselho uma passagem interessada pelos arquivos do homem em https://r-archives.mikelrnieto.net. Investiguem.

Desejo um fim de semana cheio de coisas boas e saborosas, sem nudge-nudge, wink-wink, say no more.

#staysafe #musicfortheweekend 

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This week I start a triple dose of pop based on the age-old premise that starts with sex, goes through drugs and ends with rock & roll.

I love triple sessions, they have existed in my life for as long as I can remember, mainly related to cinema but looking back, whenever I have to make decisions related to music, whenever I have to group different things in “drawers”, I use this strange condition where I see possible relationships, inter-parities in songs, grouping them in other ways than what came originally written in the instruction booklet…

This week’s theme is not complicated. Along with the “love green-eyed monster” sex has served as creative fuel since the beginnings of popular music. And maybe that’s why it comes in many formats, it can be a feeling that tingles the soul or a frenzy in your lower parts. And everything in between.

In bed, on the sofa, outdoors or in the car, pop sings the carnal encounter with double entendres or explicitly, it is at the will of the customer, the artist and the prevailing moralities at the time of publishing. What was considered spicy 20 years ago doesn’t even makes us bat an eyelid these days.

I logically picked some of the usual suspects: Barry White of course, here with his highly defended ladies man status with I’m Gonna Love You Just A Little More, Baby; but also Marvin Gaye with his inevitable Let’s Get It On; joining Prince’s Gett Off sequentially to Sheila E. with A Love Bizarre is nothing more than a bed made “Spanish style” in Paisley Park but with a king size mattress, as well as a little further on when joining Etta James with I Just Wanna Make Love To You to George Michael’s I Want Your Sex should be seen as a simple realisation of decades passing, “both two” songs were seen as being as raunchy as possible at the time of their publications.

And ahead I went galloping, trotting, neighing. With Lovage – Sex (I’m A), which appears on Music To Make Love To Your Old Lady By, 2001 edition of Dan’s only LP The Automator Nakamura and which here, alongside Mike Patton and Jennifer Charles, presents the record as Nathaniel Merriweather presents Lovage, in a cover image that pays homage to Serge Gainsbourg’s second album. However, the track I chose is a version of a Berlin song put out in 1982 by Geffen in a maxi-single aptly titled 12 Inches Of “Sex…

Speaking of Gainsbourg, many things from the French bard could have been called here but what comes to mind is Je T’aime… Moi Non Plus, which I decided to include here in a version made by Sven Väth in partnership with Miss Kittin in 2001. But I still found a way to catch another one, in this case the not-un-explicit Les Sucettes recorded by an innocent France Gall and considered risqué for the time with the fearless following lines:

Lorsqu’elle n’a sur la langue

Que le petit bâton

Elle prend ses jambes à son corps

Et retourne au drugstore.

Pour quelques pennies, Annie

A ses sucettes à l’anis.

Continuing on the path of oralized sex à la française, I give priority to Ouvre La Bouche, Ferme Les Yeux, once again written by Gainsbourg but this time for an even more explicit interpretation by Régine:

Pour gober leurs bobards dans les alcôves, la fois qui sauve, ça suffit pas

Encore faut-il un estomac solide, quand le cur vide on broie du noir

Ouvre La Bouche Ferme Les Yeux tu verras ça glissera mieux

Ouvre la bouche, ferme les yeux

Regine’s place here is pertinent since being responsible for the one of the most famous coupling dens ever invented… the disco club, when in 1953 dans une petite boîte she exchanged the jukebox for two turntables. It was then the Paris Whiskey A Go Go that she managed when she was only 24 years old and which would be the blueprint for her Chez Regine, opened in the Latin Quarter in 1957 and precursor of what would come to be most nightclubs all over the world.

But to avoid thinking that the French take home the victory cup, I chose another one well imbued with very obvious syntax, written by the quill of Reininho and his muchachos in Hardcore (1º Escalão), a classic here in Portugal or anywhere else in the world and that I saw being premiered at the Ritz Club when they put out this beautiful pornochanchada:

Mimi frenchy glass girl

She puts lipstick all over the world

I gave her the permit

For her french service

She licks, she sucks, she licks

“Que rico”, she licks, she sucks

Oh, she does it

Oh, she does it

Oh, you got to see it on streets

Ay, ay, ay, the Puerto-Rico show

The Great Gig in the Sky published in 1973 is a strong argument for those who defend the use of prog rock in the bedroom. Pink Floyd start slowly, build up to a climax ready to burst the speaker membranes, with lead singer Clare Torry who screams, moans and stutters in orgasmic joy. Then it slowly settles back into a calmer rhythm as Torry, apparently exhausted, falls into a happy sleep. But if this is the bliss equivalent of an act of “transcendental” tantric sex then what comes next, Jungle Fever, recorded the year before, is the musical counterpart to a sweaty quickie in a public loo. A polyrhythmic jam steeped in Latin licks, synthesized flutes and yet another flurr of breathy moans and ecstatic screams from a mysterious woman who is clearly enjoying what is happening. Unlike the BBC big wigs that at the time banned the Chakachas sash, inadvertently giving it an even sexier notoriety than it was supposed to have.

I start with Susana Estrada in ¡gozame Ya! and I end up with Kumi Taguchi and エマニエル夫人. Both actresses of dubious reputation, the first known as la musa del destape and the other with a CV in the Japanese softcore productions of the 70’s to make any other barbi-geisha blush. In 2017 Espacial Discos came out with the compilation The Sexadelic Disco Funk Sound of… Susana Estrada while the album where I got Taguchi’s song is the re-edition made by based in Japan Belgian label Tiliqua Records, that has been publishing things more unbelievable than whatever you can imagine. Two discs to discover, mainly because they are very well priced right now on Discogs. On the verge of getting to the money shot, there are still two things that are absolutely noteworthy: Sex Starved Secretaries that the Pornosonic project recorded in the late 90s, with or without permission from Ron Jeremy and, taken from the digital-only edition of Crap Audio, Hot Girl by Mikel R. Nieto, Chocolate Babes Get Close, one of the few tunes that wouldn’t be enough reason for censorship in the channels where I publish this m4we. Nieto is a Basque interested in the sociocultural and political aspects of how and what we hear and I advise an interested passage through this guy’s archives at https://r-archives.mikelrnieto.net. Investigate.

I wish you a weekend full of good and tasty things, without nudge-nudge, wink-wink, say no more.

#staysafe #musicfortheweekend 

Susana Estrada – ¡gozame Ya!

James Brown – Get Up (I Feel Like Being A) Sex Machine

Sven Väth ft. Miss Kittin – Je T’aime… Moi Non Plus

Dinosaur L – Go Bang!

FKA Twigs – Papi Pacify

My Life with the Thrill Kill Kult – Any Way Ya Wanna

GNR – Hardcore (1º Escalão)

Barry White – I’m Gonna Love You Just A Little More, Baby

Liza Minelli – Use Me

Tone-Loc – Funky Cold Medina

Salt-N-Pepa – Let’s Talk About Sex

Lovage – Sex (I’m A)

Pink Floyd – The Great Gig In The Sky

The Chakachas – Jungle Fever

Donna Summer – Love To Love You Baby

Pulp – Sheffield Sex City

Sheila E. – A Love Bizarre

Prince – Gett Off

Helena Noguerra – Caresse-moi J’adore Ça

Marvin Gaye – Let’s Get It On

Peggy Lee – Fever

John Sex – Bump and Grind It

France Gall – Les Sucettes

Chris Isaak – Wicked Game

Etta James – I Just Wanna Make Love To You

George Michael – I Want Your Sex

Aretha Franklin – Do Right Woman, Do Right Man

Janelle Monáe – Make Me Feel

Suicide – Cheree

Erykah Badu – Hello ft. Andre 3000

The Summits – Hanky Panky

TLC – Red Light Special

The Clovers – Love Potion Number 9

Janet Jackson – That’s the Way Love Goes

Bootsy Collins – I’d Rather Be With You

Régine – Ouvre La Bouche, Ferme Les Yeux

Pornosonic ft. Ron Jeremy – Sex Starved Secretaries

Mikel R. Nieto – Chocolate Babes Get Close

Armando Trovajoli – Sessomatto (Kid Loco Sexamental Mix)

Kumi Taguchi – エマニエル夫人

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