#083

Triple bill: 03 – Rock & Roll

Ultima instancia desta trilogia inspirada pela parangona “sex and drugs and rock and roll”, nome que tão bem ficou numa canção do mestre Blockhead Ian Dury mas que hoje quase poderia ser apropriada por uma sandocha de um qualquer Subway onde camadas de peito de peru, mozzarella fumada (scamorza), pimentos vermelhos assados e iceberg para crunch degladiam-se numa mistela com nome de molho ranchero

Apetites (para a destruição) à parte, o rock foi rolando para este século ainda sempre em códigos muito próprios, nos uniformes e cabelos das suas tribos mas também na percepção que foi deixada em como de facto já não é uma música “perigosa”, que possa influenciar, como outrora o fazia, o gosto juvenil, as convicções e os modos de uma geração “que tem tudo” ao alcance da cobertura do seu operador de rede telemóvel.

No entanto o rock continua a rolar, como demonstrado por Chaise Longue, segundo single das Wet Leg que o ano passado as lançava estratoesféricamente apesar do LP que se seguiu depois mais parecer fumaça sem grande chama. Ou como exemplificado pelos Sandie Trash de Dominique Maud e Claude Perwez que em 2007 estreavam-se com New French Chanson Suck, Here’s Sandie//Trash!! ao mesmo tempo que editavam este single onde fazem uma reprise de Fier de ne Rien Faire, canção de 1979 dos Olivensteins, uma banda punk de Rouen.

Esta será sempre, como já é hábito, uma escolha pessoal e momentânea, se tivesse que selecionar outra vez 40 músicas subordinadas ao tema possivelmente haveria outras escolhas apanhadas no snapshot. E por vezes conta também o que foi ficando de fora, dos anos 50 deixei de lado Buddy Holly & The Crickets com That’ll Be The Day, Carl Perkins e Blue Suede Shoes mas também Eddie Cochran com C’mon Everybody, enquanto dos 70s tive de dar lastro no I Wanna Be Your Dog dos Stooges, um banho ao Smoke On The Water dos Deep Purple e valente nega ao Sheena Is A Punk Rocker dos Ramones entre outras outras coisas que muito bem teriam ficado no boneco.

Deambulo por outras paragens não anglo-saxónicas, o ninho original do chilrear do rock: só do Japão vieram três preferencias: o garage rock dos The Carnabeats com Chu! Chu! Chu!, o glam das Girls em Noraneko e os OX que na escolha de オックス·クライ bem exemplifica a designação de Group Sounds que se dava nos 60s a este tipo de som.

Aqui no velho continente deparo-me com Nina Hagen a cantar Unbeschreiblich Weiblich

com Suya Giden Allı Gelin interpretado pelo turco Cem Karaca enquanto o meu amigo Samuel Úria faz-me rir a bandeiras despregadas com as suas confissões em Teimoso:

Eu nunca fui do prog-rock

Eu já nasci depois do preque

Tarde demais ‘pra proto-punk

Branco demais para ser do rap

Eu nunca fui do prog-rock

Sou neo retro redneck

Nasci num antro só de enters

Já nem sei carregar no rec

É que feitas as contas o rock até a um certo ponto na sua história “não sabia carregar no rec”, era as ancas de Presley (o rei) em Hound Dog ou a energia da mensagem dos Pistols (raínhas do punk) em God Save the Queen; “My shot at the title. A 24 yr. old kid aimin’ at ‘The greatest rock ‘n roll record ever'” na ferocidade de Springsteen (o boss) em Born to Run ou na forma como uma miúda enfezadinha de nome Polly Jean Harvey (a patroa) nos revelava um pouco do que por aí vinha em Sheela-Na-Gig.

Tentei ser o mais abrangente possível, até o raio da flauta (instrumento com o qual tenho uma relação complicada e com o qual o rock não tem nada a ver) tem direito a inclusão pela mão dos Jethro Tull com A New Day Yesterday. Os Magazine de Howard Devoto em My Tulpa estão mais perto de Crazy Love de Colder gravado 25 anos mais tarde da mesma forma que Walk On The Wild Side de Lou Reed pode ser sonoramente distinto de  Personality Crisis dos New York Dolls apesar de provir e habitar a mesma bolha estética.

Seja o grande Victor Gomes e os seus Gatos Negros Ao Vivo Na RTP 1965 ou Bước Giang Hồ por Phương Tâm, porta-voz do twist em Saigão nos anos 60; os Stranglers com Peaches ou Rebel Rebel de Bowie, ambos clássicos certificados na prova de que o rock deu muito mundo ao nosso mundo e se traçarmos uma linha trajectorial que parta do Chuck Berry com Roll Over Beethoven (presuma-se esta instancia como sendo o momento zero dessa História), que passa pelo My Generation dos The Who e pelo Roadrunner do Jonathan Richman e “encerre” com I Forget What I Remembered, da banda quebecoise proveniente de Montreal Thus Owls, que no recente album Who Would Hold You If the Sky Betrayed Us (absolutamente inspirado por Dark Star de Bowie, a banda admite) confunde e baralha o deck que normalmente compõe o manual de regras e instruções do rock que ainda rola por aí o que acaba mesmo por servir como prova irrefutável da minha conclusão a ler no ultimo parágrafo.

Começo e acabo com dois imprescindíveis pedaços de rock&rolleana, ambos do glorioso ano de 1978: começo com os Japan e o primeiríssimo single The Unconventional para acabar com Good Times Roll, faixa de abertura do disco de estreia dos The Cars de Rick Ocazek. Se esta ultima é e será sempre hino dos tempos áureos do 2001 no Estoril, a faixa cheia de wham-glam-thank-you-mam cantada por David Sylvian no album Adolescent Sex poderia ainda não indicar nada do que os Japan viriam a ser mas que tinha já mucho cojones, tinha sim senhor.

O mote para este fim de semana é frase proferida há já muito tempo por outras senhoras: Rock’n’roll is dead, long live rock’n’roll.

#staysafe #musicfortheweekend

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Last instance of this trilogy inspired by the slogan “sex and drugs and rock and roll”, a motto that sounded so well in a song by Blockhead master Ian Dury but which today could almost be appropriated by some sort of Subway-type bizz naming a sandwich where layers of turkey breast, smoked mozzarella (scamorza), roasted red peppers and iceberg (for crunch) gladiate in some shitty semi-liquid compound meant to feel like a salsa ranchera

Appetites (for destruction) aside, rock has been rolling into this century still always in it’s very own codes, in the uniforms and hair of its tribes but also in the perception that was left in how in fact it is no longer a “dangerous” music, which can influence, as in the past, the youthful taste, convictions and manners of a generation “that has everything” within reach of the coverage of its mobile network operator.

However, rock continues to roll, as demonstrated by Chaise Longue, the second single by Wet Leg that last year launched them stratospherically despite the LP that followed after feeling more like loads of smoke without a great flame. Or as exemplified by Sandie Trash, the duo of Dominique Maud and Claude Perwez who debuted in 2007 with New French Chanson Suck, Here’s Sandie//Trash!! at the same time as the single I chose where they did a rerun of Fier de ne Rien Faire, a 1979 song by the Oliveensteins, a punk band from Rouen.

This will always be, as usual, a personal and momentary choice, if I had to select again 40 songs subordinated to the theme, there would possibly be some other choices caught in the snapshot. And sometimes it also counts what I didn’t pick, from the 50s I left out Buddy Holly & The Crickets with That’ll Be The Day, Carl Perkins and Blue Suede Shoes but also Eddie Cochran with C’mon Everybody, while from the 70s I had to give ballast to I Wanna Be Your Dog by the Stooges, a bath to Smoke On The Water by Deep Purple while valiantly denying Sheena Is A Punk Rocker by the Ramones among other things that would have been spot on the picture conjured this week.

I wander through other non-Anglo-Saxon places, the original nest of all rock chirping: only from Japan came three favorites: the garage rock of The Carnabeats with Chu! Chu! Chu!, the glam of the Girls in Noraneko and OX that in the choice of オックス·クライ well exemplifies the designation of Group Sounds that was given in the 60s to this type of sound.

Closer to home, in the old continent I find Nina Hagen singing Unbeschreiblich Weiblich, with Suya Giden Allı Gelin played by the Turk Cem Karaca while my friend Samuel Úria makes me laugh with his confessions in Teimoso:

Eu nunca fui do prog-rock

Eu já nasci depois do preque

Tarde demais ‘pra proto-punk

Branco demais para ser do rap

Eu nunca fui do prog-rock

Sou neo retro redneck

Nasci num antro só de enters

Já nem sei carregar no rec

(I apologise but Sam’s lyrics are not to be translated) 

After all, rock at a certain point in its history “didn’t know how to press the rec button”, it was Presley’s hips (the king) in Hound Dog or the energy of the Pistols’ (punk queens) message in God Save the Queen; “My shot at the title. A 24 yr. old kid aimin’ at ‘The greatest rock ‘n roll record ever'” in the ferocity of Springsteen (the boss) in Born to Run or in the way a little girl named Polly Jean Harvey (the foreman lady) revealed to us a little of what was coming our way in Sheela-Na-Gig.

I tried to be as comprehensive as possible, even the damn flute (an instrument with which I have a complicated relationship and with which rock has nothing to do with) is entitled to inclusion by Jethro Tull with A New Day Yesterday. Howard Devoto’s Magazine in My Tulpa is closer to Colder’s Crazy Love recorded 25 or so years later in the same way that Lou Reed’s Walk On The Wild Side can be sonically distinct from the New York Dolls’ Personality Crisis despite coming from and inhabiting the same aesthetic bubble.

Be the great Victor Gomes and his Black Cats Live On RTP 1965 or Bước Giang Hồ by Phương Tâm, the spokesperson of Saigon’s twist in the 60s; Stranglers with Peaches or Bowie’s Rebel Rebel, both certified classics in the proof that rock gave a lot of world to our world and if we trace a trajectory that starts with Chuck Berry’s Roll Over Beethoven (this instance is assumed to be the moment zero), that crosses The Who’s My Generation and Jonathan Richman’s Roadrunner and “close” with I Forget What I Remembered, by Quebec band from Montreal Thus Owls, who on the recent album Who Would Hold You If the Sky Betrayed Us (absolutely inspired by Dark Star, the band admits) confuse and shuffle the deck that normally makes up the rock rules and the instructions manual that still rolls, which actually ends up serving as irrefutable proof of my statement in the last paragraph of this text.

I start and end with two essential pieces of rock&rolleana, both from the glorious year of 1978: I start with Japan and their very first single The Unconventional to end with Good Times Roll, the opening track on the debut album by Rick Ocazek’s The Cars. If the latter is and will always be an anthem of the heyday of 2001 in Estoril, the track full of wham-glam-thank-you-mam sung by David Sylvian on the album Adolescent Sex could still not indicate anything of what Japan would become later on but it already had a lot of cojones, a ballsy ragged bit of rock, yes siree…

The motto for this weekend is a phrase spoken many times over by many other ladies:

Rock’n’roll is dead, long live rock’n’roll.

#staysafe #musicfortheweekend

Japan – The Unconventional

Chuck Berry – Roll Over Beethoven

The Carnabeats – Chu! Chu! Chu!

Magazine – My Tulpa

Little Richard – Good Golly Miss Molly

Colder – Crazy Love

The Cramps – Human Fly

Ray Charles – Hit The Road Jack

Siouxsie & The Banshees – Hong Kong Garden

Bill Haley – Don’t Knock The Rock

ZZ Top – La Grange

Blondie – One Way Or Another

The Rolling Stones – Jumpin’ Jack Flash

The Stranglers – Peaches

Elvis Presley – Hound Dog

Cem Karaca – Suya Giden Allı Gelin

Victor Gomes e Os Gatos Negros – Ao Vivo Na RTP em 1965

Bo Diddley – Who Do You Love

PJ Harvey – Sheela-Na-Gig (Demo)

The New York Dolls – Personality Crisis

The Sex Pistols – God Save The Queen

The Modern Lovers – Roadrunner

Jethro Tull – A New Day Yesterday

Girls – Noraneko

Jerry Lee Lewis – Great Balls Of Fire

David Bowie – Rebel Rebel

Wet Leg – Chaise Longue

Lou Reed – Walk On The Wild Side

Nirvana – Come As You Are

Bruce Springsteen – Born To Run

OX – オックス·クライ

The Who – My Generation

Nina Hagen Band – Unbeschreiblich Weiblich

The Kinks – You Really Got Me

Sandie Trash – Fier de ne Rien Faire

Antonio Sanchez – Risa de Mujer ft. Lila Downs

Thus Owls – I Forget What I Remembered

Samuel Úria – Teimoso

Phương Tâm – Bước Giang Hồ (My Wonderful Journey)

The Cars – Good Times Roll

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