#089

Alitalia

una particolare selezione d’Italo

E allora uhe’ oh’ lievete ‘a sotto

Si nun te staje accorto quaccheduno te ciacca

‘A ggente ca te guarda nun se ne fotte ‘e niente

Maronna e comm’e’ brutto a sta’ c’ o mal’ ‘e diente

E allora uhe’ oh’ tienelo a mmente

Pe’ cchi nun se fa’ male rieste’na samenta

E si pierde a’ pazienza. Song’guaje ‘e morte

E allucca cchm’ forte. E allucca cchiu’ forte

E allora uhe’ oh’ lievete ‘a sotto

Si nun te staje accorto quaccheduno te ciacca

‘A ggente ca te guarda nun se ne fotte ‘e niente

Maronna e comm’e’ brutto a sta’ c’ o mal’ ‘e diente

E allora uhe’ oh’ lievete ‘a’nnanze

Stanotte aggio durmuto senza mal’ ‘e panza

Quaccosa t’haie magnato ca t’ha fatto male

Tengo a televisione trentasei canali

Si parlano tutti’nzieme so’tanta capere

Ma quanno ascimmo fora sarra’ primavera

Ma quanno ascimmo fora sarra’ primavera

Ma quanno ascimmo fora sarra’ primavera

Primavera

Primavera

Primavera

Primavera

                    Tullio De Piscopo – Stop Bajon

Alvoravam os anos 80 ainda cheios de tiques e maneirismos herdados dos finais da década que havia findado, a disco, o punk e a electrónica cruzavam-se na rádio e na pista de dança, o programa Discoteca feito na Rádio Comercial por Adelino Gonçalves com ajuda do João Vaz por vezes mostrava-nos o lado mais estranho dessa pop quando produzida em Itália. Uma pop obcecada na ficção cientifica, mas estranhamente interpretada por bimbolinnis a cantarem por vezes com um sotaque que até fazia os Jogos sem Fronteiras parecerem uma brincadeira…

De mãos dadas à disco importada dagli Stati Uniti mas de componentes nitidamente “fabricados” na velha Europa, o italo-disco que ficou para relatar algo digno de conta era un po’ strano, mais electronico, mais teutônico, muito mais arty do que aquele que ainda é hoje celebrado como uma pop kitschy mais ligada à Hi-NRG do que a outras correntes alternativas. O que ficou embebido na memória da história foi o Tarzan Boy dos Baltimora, o Self Control por Laura Branigan, a Sabrina com Boys Boys Boys ou Spagna com Call Me, sim, eu sei, que tudo isso são recordações mas usarei este meu spazio settimanale para provar quão deturpadas poderão estar as lembranças de Flemming Dalum ou Marcello Giordani.

Ambos são apontados como activos revivalistas do género, o DJ dinamarquês fez toda uma carreira a partir do pior que a Itália fez, mesmo que se conte com o desenho e fabrico do Fiat Multipla. Já Giordani, metade da dupla Marvin & Guy, diz que nem se lembra bem do que ouvia na rádio quando pequeno (não quero nem sequer imaginar) mas um dia em 2000 passou-se com um DJ set da dupla Metro Area e nunca mais olhou para trás.

Durante uns anos acompanhei o seu blog Italo Deviance, onde foi abrindo uma verdadeira caixa de Pandora ao revelar músicas tocadas em míticos clubes há muito encerrados: Cosmic, Typhoon, Chicago, Xenon, Baia deli Angeli e assim fomentando toda um novo interesse neste sub-género musical.

O que é importante aqui ficar bem frisado (tão frisado quanto os cabelos das disco-dancers em patins que relembro dessa altura) é que se calhar acabei por só (es)colher a flor de sal da italo, músicas que na altura talvez nem tenham tido o sucesso de outras mas que aguentaram a violência da passagem dos tempos, dos render da guarda do bom e mau gosto e que se encontram hoje numa posição muito mais vantajosa para poderem continuar a perdurar na “escritica pop”.

Para reavaliar muitas destas preciosidades o trabalho de certas entidades tem sido imparável, talvez mesmo incomparável: no tecer da trama sonora, Alexander Robotnick de quem escolhi Dance Boy Dance ou Giorgio Moroder, alemão com nome italiano, a la Giuseppe Luigi quando José Luis não dava pinta, aqui representado com Utopia (Me Giorgio). Poderia ter incluído algo de Danielle Baldelli, mestre superior nas escolhas que foi fazendo e que muito moldaram o output sonoro italiano a partir da costa do Adriatico. Podia (ou devia mesmo) mencionar I-Robots, nome adoptado por Gianluca Pandullo, fundador da label Opilec Music, sediada em Turim para levar italo ao mundo. 

Há muitos anos recebi uma mensagem do grande crate digger Pedro Ricciardi com um link que me deixou perplexo: 

a acompanhar dizia só “ouve os primeiros segundos”. Bem, é um pouco mais do que a intro, é tudo até o Gary Low começar a cantar, aí estraga-se o encanto mas até lá… Para quem tiver paciência para ir ouvir um plágio ao Amor dos Heróis do Mar é só carregar no link atrás mencionado.

Esse era o MO italiano: copiar, adaptar e melhorar (quando dava para fazer isso) em alguns casos era fazer tão a decalque dos originais que até fazia impressão e possível mossa nas tabelas de vendas como por exemplo os grupos Change e B.B.&Q. Band, projectos que até pareciam americanos mas que eram engenhos da dupla Jacques Fred Petrus e Mauro Malavasi. O próprio Moroder e o seu trabalho com Donna Summer uma enorme influencia para as fileiras de automatons a fazer discos mas outros há que foram remando nas margens do reconhecimento pop como Kasso aqui escolhido com o tema homónimo de apresentação, como os Klein & MBO com Wonderful ou mesmo Topo em Ba Ba Go, Go. Tudo coisas na categoria do desmaiar de bom…

Começo esta escolha com Viviana Andreattini, Vivien Vee para o mundo, com Don’t Be Down. Nascida em Trieste e descoberta com 18 anos por Claudio Simonetti, que vinha da banda prog Goblin (e que viria a assinar como Kasso) e Giancarlo Meo Vivien encontrava-se com o sucesso logo no primeiro 7”. 

Italo-disco, pode ser parangona inventada pela ZYX alemã para vender musica de dança italiana mas na realidade o som influenciou muita banda synth-pop, os New Order ou os Pet Shop Boys logo no topo da lista ou a forma como permeou a infância da cena house de Chicago se pensarmos que em 1983 Frankie Knuckles remisturava o hit I’m Going to Go de Jago, uma constante na playlist de Larry Levan na cabine do Paradise Garage. Pensar que de Tiga a Miss Kittin, de Solomon a Palms Trax a lista de admiradores é enorme e continua a crescer.

40 é um numero muito rapidamente finito e poderia ter deixado a minha escolha navegar por coisas só de então, mas na cena dos re-edits há uma enorme apreciação pelo catalogo italiano e por isso acabei por escolher algumas coisas desse panorama: de Padova Paul Older (Paolo Vecchiato) com Confusione; de Pagani em Salerno Franco Califano com Bella, e Sam Ruffillo com 80 Voglia Di Calcio. Mas há também originais fundados na actualidade: o projecto Seven People de Lorenzo Morresi com Tekakwitha Elevator (Obscure Italo Version) ou Formula Uno com um Cocktail Time editado pela Bordello A Parigi este ano. E ainda há também alguns que nem Italo ou italianos são mas que veneram o estilo: James Rod, nome artistico de Jaime Rodríguez Navarro, produtor espanhol e fundador da Golden Soul Records com Ccotutto (Italian Boogie Madness Re-Edit) ou a minha escolha de encerramento: Sally Shapiro com This City’s Local Italo Disco DJ Has A Crush On Me. Sally Shapiro é um duo proveniente de Lund na Suécia, composto por Johan Agebjörn e uma cantora que usa o nome da banda como pseudónimo. A miúda é supostamente tão envergonhada que quando lhe perguntaram o que é que ela faz quando não está a cantar esta respondeu que “I dance all night long on small disco clubs and walk in the moonshine thinking about my love affairs.”

balla, balla molto, come se non ci fosse un domani…

#staysafe #musicfortheweekends

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E allora uhe’ oh’ lievete ‘a sotto

Si nun te staje accorto quaccheduno te ciacca

‘A ggente ca te guarda nun se ne fotte ‘e niente

Maronna e comm’e’ brutto a sta’ c’ o mal’ ‘e diente

E allora uhe’ oh’ tienelo a mmente

Pe’ cchi nun se fa’ male rieste’na samenta

E si pierde a’ pazienza. Song’guaje ‘e morte

E allucca cchm’ forte. E allucca cchiu’ forte

E allora uhe’ oh’ lievete ‘a sotto

Si nun te staje accorto quaccheduno te ciacca

‘A ggente ca te guarda nun se ne fotte ‘e niente

Maronna e comm’e’ brutto a sta’ c’ o mal’ ‘e diente

E allora uhe’ oh’ lievete ‘a’nnanze

Stanotte aggio durmuto senza mal’ ‘e panza

Quaccosa t’haie magnato ca t’ha fatto male

Tengo a televisione trentasei canali

Si parlano tutti’nzieme so’tanta capere

Ma quanno ascimmo fora sarra’ primavera

Ma quanno ascimmo fora sarra’ primavera

Ma quanno ascimmo fora sarra’ primavera

Primavera

Primavera

Primavera

Primavera

                    Tullio De Piscopo – Stop Bajon

The 80’s dawned, still full of tics and mannerisms inherited from the end of the decade that had ended, disco, punk and electronics criss-crossed on the radio and on the dance floor, the Discoteca program made on Rádio Comercial by Adelino Gonçalves with the help of João Vaz sometimes showed us the strangest side of this pop when produced in Italy. A pop obsessed with science fiction, but strangely played by bimbolinnis singing sometimes with an accent that even made the giochi senza frontiere seem like a joke…

Hand in hand with the disco sound imported from the Stati Uniti but with components clearly “manufactured” in good ol’ Europe, the Italo-disco that remained to report something worthy of mention was un po’ strano, more electronic, more Teutonic, much more arty than the one which is still celebrated today as kitschy pop more connected to Hi-NRG than to other alternative currents. What got stuck in history’s memory was Tarzan Boy by Baltimora, Laura Branigan’s Self Control, Sabrina with Boys Boys Boys or Spagna with Call Me, yes, I know, these are all kitsch memories but I’ll use this spazio settimanale of mine to prove how distorted memories of people like Flemming Dalum or Marcello Giordani can be.

Both are pointed out as active revivalists of the genre, the Danish DJ has made a whole career out of the worst that Italy has done, even if you count on the design and manufacture of the Fiat Multipla. Giordani, half of the duo Marvin & Guy, says he doesn’t even remember what he heard on the radio when he was little (I don’t even care to imagine) but one day in 2000 he happened to get blown away with a DJ set by the duo Metro Area and he never looked back. For a few years I followed his blog Italo Deviance, where he opened a real Pandora’s box by revealing songs played in mythical clubs long closed: Cosmic, Typhoon, Chicago, Xenon, Baia deli Angeli and thus fomenting a whole new interest in this musical sub-genre.

What’s important here to set straight (just as straight as the frizzy hair of the disco dancers on skates that I remember from back then) is that maybe I ended up just choosing Italo’s fleur de sel, songs that at the time maybe didn’t even have had that much success but that have endured the violence of the passage of time, the (sur)render of the guard of good and bad taste and which are today in a much more advantageous position to be able to continue to endure through pop’s writing.

To reassess many of these gems, the work of certain entities has been unstoppable, perhaps even incomparable: in the weaving of the sound plot, Alexander Robotnick, from whom I chose Dance Boy Dance or Giorgio Moroder, a German with an Italian name, a la Giuseppe Luigi when José Luis didn’t gel, here represented with Utopia (Me Giorgio). I could have included something from Danielle Baldelli, a superior master in the choices he made and which greatly shaped the Italian sound output from the Adriatic coast. I could (or should) mention I-Robots, a name adopted by Gianluca Pandullo, founder of the Turin-based label Opilec Music taking truckloads go very good italo to the world.

Many years ago I received a message from the great crate digger Pedro Ricciardi with a hyperlink that perplexed me, accompanying it said only “listen to the first seconds”. Well, it’s a little more than the intro, it’s all until Gary Low starts singing, then the charm is spoiled but until then… if you have the patience or will to listen to a whole plagiarism of Amor by Heróis do Mar, just click on the link (mentioned above on the Portuguese text).

This was the Italian MO: copying, adapting and improving (when it was possible to do so) in some cases was to make the decal of the originals so much that it even made possible dent in the sales charts, such as with both Change and B.B.&Q Band groups, projects that even sounded American but were devices of duo Jacques Fred Petrus and Mauro Malavasi. Moroder himself and his work with Donna Summer were a huge influence on the ranks of automatons making records, but there are others that have been paddling on the margins of pop recognition like Kasso chosen here with his eponymous tune of presentation, like Klein & MBO with Wonderful or even Topo in Ba Ba Go, Go. All things in a category that I call of “so good that it makes you feel like fainting”…

I start this choice with Viviana Andreattini, Vivien Vee for the rest of the world, with Don’t Be Down. Born in Trieste and discovered at the age of 18 by Claudio Simonetti, who came from the prog band Goblin (and who would later sign as Kasso) and Giancarlo Meo, Vivien found right away success with her first 7”.

Italo-disco, it may be a slogan invented by the German label ZYX to sell Italian dance music but in reality the sound influenced a lot of synth-pop bands, New Order or the Pet Shop Boys right at the top of the list or the way it permeated the childhood of Chicago house scene if we think that in 1983 Frankie Knuckles remixed Jago’s hit I’m Going to Go, a constant on Larry Levan’s playlist in the Paradise Garage booth. To think that from Tiga to Miss Kittin, from Solomon to Palms Trax, the list of admirers is huge and continues to grow.

40 is a very quickly finite number and I could have kept my choices browsing things from just then, but in the re-edits scene there is a huge appreciation for the Italian catalog and that’s why I ended up choosing some things from that panorama: from Padova Paul Older (Paolo Vecchiato) with Confusione; from Pagani in Salerno Franco Califano with Bella, and Sam Ruffillo with 80 Voglia Di Calcio. But there are also originals produced right now: Lorenzo Morresi’s Seven People project with Tekakwitha Elevator (Obscure Italo Version) or Formula Uno with a Cocktail Time published by Bordello A Parigi this year. And there are also some who are neither Italo nor Italian but who worship the style: James Rod, stage name of Jaime Rodríguez Navarro, Spanish producer and founder of Golden Soul Records with Ccotutto (Italian Boogie Madness Re-Edit) or my option to finish with Sally Shapiro’s This City’s Local Italo Disco DJ Has A Crush On Me. Sally Shapiro is a duo from Lund, Sweden, consisting of Johan Agebjörn and a singer who uses the band’s name as a pseudonym. The girl is allegedly so embarrassed that when asked what she does when she’s not singing she replied that “I dance all night long on small disco clubs and walk in the moonshine thinking about my love affairs.”

balla, balla molto, come se non ci fosse un domani…

#staysafe #musicfortheweekends

Vivien Vee – Don’t Be Down

Dee D. Jackson – Automatic Lover (Original 12″ Long Version)

Jimmy Ross & M.T. Foundation – New York To Moscow

Klein & MBO – Wonderful

L.D.C. – Disco Lido Dance

Drums Music Show – Samedi Soir

Patrizia Pellegrino – Musica Spaziale

Paul Older – Confusione

Seven People – Tekakwitha Elevator (Obscure Italo Version)

Franco Califano – Bella (Kapote Rework)

Easy Going – Do It Again

Firefly – Love (Is Gonna Be On Your Side)

Ago – Good Time

GeeGee & Gym Band – Majic-Kaboola

Tullio De Piscopo – Stop Bajon

G.A.N.G. – Incantations (Vocal)

Tom Hooker – Come Back Home

Bagarre – Lemonsweet (Kinky Afro edit)

Ghery M. – Beirut Connection

Jet Set – Love Dance

Modula – Malicumbà

Gaznevada – I.C. Love Affair (Italian Version)

Capricorn – Pow Pow Pow – (Bacci Bros Records)

Alexander Robotnick – Dance Boy Dance

Sideview – Don Quichote

R.E.M. – Computer Communication (Remix)

Drep – Have A Good Time

James Rod – Ccotutto (Italian Boogie Madness Re-Edit)

Spazio Vitale – Spazio Funky

Giorgio Moroder – Utopia (Me Giorgio)

Daniela Alverman – Who does?

Gianfracasso Ensemble – Music On My Mind

Carlotto – Come With Me

Kasso – Kasso

Fake – Frogs In Spain

Formula Uno – Cocktail Time

Sam Ruffillo – 80 Voglia Di Calcio

Kitrà – Hotel de la Plage

Topo – Ba Ba Go, Go

Sally Shapiro – This City’s Local Italo Disco DJ Has A Crush On Me

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