#092
Sens02 – Blow-Up
Esta semana seguimos em frente nesta tri-partida avaliação sensorial. Sentido segundo, a visão, ou o que os olhos conseguem ver e que os dispositivos associados ao preservar dessas memórias muitas vezes não conseguem captar. O meu filho era pequeno quando visitou o Machu Picchu e lembro-me de o ouvir dizer que não tirava fotos porque o telemóvel “não apanhava o que ele via”. Chamem-me pai babado mas podem admitir que o miúdo estava já na altura on the dot…
Pequeno ou grande Red Dot, é marca visual da Leica e eu se quisesse ser justo deveria ter incluído a faixa Leica, Leica als Begleiter por Eric Helgar e que a Leitz incluiu num picture disc promocional chamado Schnapp-Schüsse ou poderia ter pegado em Desafinado onde o mestre Jobim diz-nos que “fotografei você na minha Rolleiflex / revelou-se a sua enorme ingratidão”. Se eu quisesse ser mesmo imparcial, para ninguém saber se eu sou mais Nikon, Fuji, Hasselblad, Pentax ou Mamiya, neste rodízio de preferencias focais eu diria que assim como “a orelha” é o mais útil nestas coisas de ouvir ou fazer música também nos assuntos visuais o mais importante é esse certain regard ocular de quem olha e vê…
Leica On The Beach #1 editado em 1997 pelo trio semi-new-age アンビエント·ハワイ composto por Makoto Kubota, Sandii e Yuki Yamauchi acabou por ser abertura para outras 39 obturações pop dedicadas a este tema. É uma longa exposição manual capaz de produzir lens flare por todo o lado, até mesmo no gira-discos.
Outros fabricantes são mencionados, sendo a Polaroid quem consegue maior profundidade de campo, senão que se verifique ao ligarmos a função de auto-foco: Gentlemen Take Polaroids dos Japan, os Soft Cell com Polaroid do album de regresso *Happiness Not Included ou com os franceses Ruth com a glacial musique froide de Polaroïd/Roman/Photo datada de 1985. Mas há mais, Hey Ya!, uma canção altamente energética e divertida (vejam o video em https://www.youtube.com/watch?v=PWgvGjAhvIw) apesar de descrever o quão difícil é manter um relacionamento amoroso (are we still in denial when we know we’re not happy here?), editada pelos Outkast em 2003 e que não só ganhou um Grammy como teve direito a tornar-se uma das 500 Greatest Songs of All Time que a Rolling Stone inventa de vez em quando… e que usa Shake It like a Polaroid Picture em laia de subtítulo para descrever o acto de dançar. No entanto isso levou a empresa americana a emitir na altura uma declaração de alerta para os seus utilizadores não sacudirem os instantâneos, pois isso poderia danificar ou distorcer a imagem em desenvolvimento.
They only want you when you’re seventeen,
When you’re 21, you’re no fun.
They take a Polaroid and let you go
Say they’ll let you know, so come on.
Ladytron – Seventeen
Mas todas escolhas desta semana estão em full frame: homenageando aquele momento sublime em que se percebe em Ed Wood de Tim Burton que o director de fotografia daquele que é considerado o pior realizador de sempre era daltónico escolhi Fred Astaire a cantar I Used To Be Color Blind para noutro ponto fazer um crop à mais bem-falante cantora da pop inglesa, Jessica Griffin que contribuiu no projecto Would-Be-Goods que fez no fim dos 80s com a irmã Miranda várias canções que ficaram fora deste darkroom para que a excelente Cecil Beaton’s Scrapbook incluída no primeiro LP, intitulado com aptidão The Camera Loves Me, poder ser assim revelada.
A hora mágica, com uma luz assim candidamente amarelinha, oferece aqui um recorte suave sobre Fotografia de Gabriela Schaaf enquanto que de um dos incompreendidos LPs gravados por Bowie nos 90 escolho The Voyeur Of Utter Destruction (As Beauty) ao catrapiscar 1. Outside The Nathan Adler Diaries: A Hyper Cycle (ainda tem igualmente um outro sub-titulo, The Art-Ritual Murder of Baby Grace Blue: A non-linear Gothic Drama Hyper-cycle) editado em 1995. Arrebato uma Nina Hagen ainda novinha e do outro lado do muro, quando em 1974 deu um ano da sua voz ao die Gruppe Automobil que com ela ainda gravou este Du Hast den Farbfilm Vergessen para o selo AMIGA. No ano seguinte atravessava o checkpoint Charlie e viria a tornar-se na operática rainha do punk que me lembro. Mas para não criar razões para cenas de ciúmes acabei por ir buscar ao LP Kaleidoscope um Red Light gravado por Siouxsie Sioux e os seus Banshees em 1980.
Nestas coisas é melhor por vezes assumir o bokeh das que ficaram de fora, umas porque não tem enquadramento aqui: Wishing (If I Had a Photograph of You) dos A Flock of Seagulls (lamento mas é banda que nem meio desfocada se aproveita) ou Paparazzi da Lady Gaga, porque é boa mas assim para limpar lentes; outras porque pela regra dos terços aqui impostas já não cabiam: Sure Shot dos Beastie Boys, Pictures Of Lily dos The Who, Peg dos Steely Dan ou Send a Picture of Mother do mestre Johnny Cash. É que assim deu espaço para uma ultima obturação na qual escolhi o clássico Girls on Film dos Duran Duran mas em versão orquestral pelos The String Quartet.
Conhecidos pela sigla VSQ, The Vitamin String Quartet é um enorme projecto desenvolvido pelo CMH Label Group, aglomeração de mais de uma dúzia de labels guardiãs de anos e anos de história musical e mais de 12.000 gravações originais em vários gêneros musicais que vão sendo utilizadas em campanhas, filmes e programação TV. A VSQ começou em 1999 e desde então conta com mais de 300 edições, que vão da Cardi B à Björk e do Studio Ghibli até ao goth metal, mais de 1 bilião de streams, quase 4 milhões de downloads e cerca de 1 milhão de vendas de “edições físicas”, num crossover que tem sido verdadeiro quebra-barreiras entre o mundo da pop e da clássica. Hehe, muzak para as massas…
#staysafe #musicfortheweekend
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Today we move forward in this tri-parted sensory evaluation started last week. Second sense, vision, or what the eyes can see but many devices associated with preserving these memories often fail to capture. My son was quite young when we visited Machu Picchu and I remember hearing him say that he didn’t take pictures because his cell phone “didn’t pick up what he saw”. Call me a doting father but you can admit that the kid was already on the dot…
Small or large Red Dot, it is Leica’s visual trademark and if I wanted to be fair I should have included the track Leica, Leica als Begleiter by Eric Helgar and which Leitz included in a promotional picture disc called Schnapp-Schüsse or I could have taken it from Desafinado where master Jobim tells us that “fotografei você na minha Rolleiflex / revelou-se a sua enorme ingratidão”. If I wanted to show real impartiality, so that no one would know if I’m more Nikon, Fuji, Hasselblad, Pentax or Mamiya, in this rotation of focal preferences I will say that just as “the ear” is most useful in these things of listening or making music, in visual matters the most important thing is that certain regard of those who look and really see…
Leica On The Beach #1 published in 1997 by the semi-new-age trio アンビエント·ハワイ composed by Makoto Kubota, Sandii and Yuki Yamauchi turned out to be the opening shot for another 39 pop “clicks” dedicated to this theme. It’s a long manual exposure capable of producing lens flare everywhere, even on a turntable.
Other manufacturers are mentioned, Polaroid being the one that achieves greater depth of field, totally verified by turning on the auto-focus function: Gentlemen Take Polaroids by Japan, Soft Cell with Polaroid from the comeback album *Happiness Not Included or Ruth with the glacial musique froide Polaroïd/Roman/Photo dated from 1985. But there’s more, Hey Ya!, a highly energetic and fun song (watch the video at https://www.youtube.com/watch?v= PWgvGjAhvIw) despite describing how difficult it is to maintain a romantic relationship (are we still in denial when we know we’re not happy here?), put out by Outkast in 2003 and which not only won a Grammy but also had the right to become one of the 500 Greatest Songs of All Time that Rolling Stone invents from time to time… and which uses Shake It like a Polaroid Picture as a subtitle to describe the act of dancing. However, this led the American company to issue a warning statement at the time for its users not to shake the snapshots, as this could damage or distort the developing image.
They only want you when you’re seventeen,
When you’re 21, you’re no fun.
They take a Polaroid and let you go
Say they’ll let you know, so come on.
Ladytron – Seventeen
But all this week’s choices are in full frame: honouring that sublime moment when you realize in Tim Burton’s Ed Wood that the photography director of who is considered the worst director only saw ranges of grey instead of colours, I chose Fred Astaire singing I Used To Be Color Blind while further on cropping for the most well-spoken English pop singer, Jessica Griffin, who contributed to the Would-Be-Goods project that she did at the end of the 80s with her sister Miranda, several songs that were left out of this darkroom so that the excellent Cecil Beaton’s Scrapbook included on their first LP, aptly titled The Camera Loves Me, could thus be revealed.
The magic hour, with such a candidly yellowish light, offers some sort of soft indention on Fotografia by Gabriela Schaaf while from one of the misunderstood LPs recorded by Bowie in the 90s I chose The Voyeur Of Utter Destruction (As Beauty) by tapping 1. Outside The Nathan Adler Diaries: A Hyper Cycle (it also has another subtitle, The Art-Ritual Murder of Baby Grace Blue: A non-linear Gothic Drama Hyper-cycle) circa 1995. I snatch a young Nina Hagen from the other side of the wall, when in 1974 she gave a year of her voice to Die Gruppe Automobil who also recorded this Du Hast den Farbfilm Vergessen with her for the AMIGA label. The following year she crossed Checkpoint Charlie and would become the operatic punk queen I remember. But in order not to create any reasons for jealous scenes, I ended up picking up a Red Light from the Kaleidoscope LP recorded by Siouxsie Sioux and her Banshees in 1980.
In these things, it’s sometimes better to assume the bokeh of those left out, some because no framing is possible here: Wishing (If I Had a Photograph of You) by A Flock of Seagulls (I’m sorry but it’s a band that doesn’t even take advantage of blurriness) or Lady Gaga’s Paparazzi, because it’s good but only as a lens cleaner; others because the rule of thirds imposed here no longer fit: Sure Shot by the Beastie Boys, Pictures Of Lily by The Who, Peg by Steely Dan or Send a Picture of Mother by mister Johnny Cash. This gave way to a final switch of the shutter in which I chose the classic Girls on Film by Duran Duran but in an orchestral version by The String Quartet.
Known by the acronym VSQ, The Vitamin String Quartet is a huge project developed by the CMH Label Group, an agglomeration of more than a dozen labels that are guardians of years and years of musical history and more than 12,000 original recordings in various musical genres seldom used in campaigns, films and TV programming. VSQ started in 1999 and since then had over 300 recordings ranging from Cardi B to Björk, from Studio Ghibli to goth metal, over 1 billion streams, nearly 4 million downloads and close to 1 million sales of “physical editions”, in a crossover that has been a real barrier-breaker between the pop and classical worlds. Hehe, muzak for the masses…
#staysafe #musicfortheweekend
Ambient Hawaii – Leica on the Beach #1
Gabriela Schaaf – Fotografia
Siouxsie and The Banshees – Red Light
Barbara – Si La Photo Est Bonne
Soft Machine – Jet-Propelled Photograph (Shooting At The Moon)
Blondie – Picture This
Bucks Fizz – My Camera Never Lies (12” Version)
David Bowie – The Voyeur Of Utter Destruction (As Beauty)
Nina Hagen & Automobil – Du Hast den Farbfilm Vergessen
Saint Etienne – The Bad Photographer
Paul Simon – Kodachrome
Amanda Lear – I am a Photograph
Alfonso Santisteban – Una Cancion Para Su Fotografia
Holger Czukay – The Photo Song
Fred Astaire – I Used To Be Color Blind
Stereo Venus – Photographs
Jack Johnson – F-Stop Blues
Poeme Electronique – She’s an Image
Arcade Fire – Flashbulb Eyes
Outkast – Hey Ya!
Modas Clandestinas – Nacida Para Ser Fotografiada
The Kinks – People Take Pictures of Each Other
Soft Cell – Polaroid
Mitsuyoshi Azuma & The Swinging Boppers – Photo Jijii
Michelle Vernon – Roman-Photo
Would-Be-Goods – Cecil Beaton’s Scrapbook
Eyeless In Gaza – Photographs As Memories
Toyah – Zoom Zoom
Kevin Morby – This Is A Photograph
Ivan – Fotonovela
Salyu – Camera
Ringo Starr – Photograph
Nico – Camera Obscura
Depeche Mode – Photographic
Jody Watley – Photographs
Ruth - Polaroïd/Roman/Photo
R.E.M. – Camera
Ladytron – Seventeen
Japan – Gentlemen Take Polaroids
The String Quartet – Girls on Film