#095

One and Only

One hit wonder é o termo em voga mas os franceses, por vezes mais empíricos nestas coisas, tratam por success sans lendemain estes 15 minutos de fama atribuídos a certos artistas.

PSY com Gangnan Style ou o Bicho do Iran Costa, Macarena dos Del Rio ou Las Ketchup com Aserejé, estou a falar de coisas por vezes tão deploráveis e que nos massacraram os tímpanos até a uma exaustão tão sangrenta que bem teríamos tido desculpa e possível perdão se tivéssemos decidido por qualquer razão ter feito justiça pelas nossas próprias mãos…

Por outro lado temos de agradecer aos compositores de chart-toppers como Come on Eileen, Groove is in the Heart, I’m Gonna Be (500 Miles), Play That Funky Music ou Rapper’s Delight por nos terem dado pelo menos estas transcendentes malhas, mesmo que a carreira depois tenha morrido na praia sem nunca alcançar novo fulgor de vendas a fama e proveito alcançado “por aquele” single já ninguém lhes tirará.

Estas coisas do estrelato momentâneo pode muito bem dar cabo da alma de muito compositor, imaginem todos aqueles que o alcançam logo no primeiro 7” para depois verem todo o resto das suas carreiras a contornarem em vão os fundos das tabelas de vendas, o peso “desse” sucesso retalhando a confiança do autor… e o pior é que não é coisa de hoje em dia ou reservado aos mundos da pop e do rock. Repare-se no exemplo da Carmina Burana que pode ser avaliado como um sucesso sem par para o “colector” Carl Orff mas ele acabaria praticamente só reconhecido por esse trabalho, todo o resto da sua carreira um completo “vácuo”.

Ou ainda o exemplo de Mário Mata, fantástico compositor que teve o seu metier para sempre “assombrado” por Não Há Nada Pa Ninguém. Esse ano de 1981 tem um outro exemplo de canção orelhuda que passava o tempo todo na rádio e que assim “construiu” todo um gigante fosso entre o artista e a notoriedade. Se um púdico “piiii” posicionado sobre a dicção do pelo púbico deu notoriedade ao Patchouly dos seixalenses Grupo de Baile também acabou por crava-los com esse cunho de banda-de-um-só-sucesso o qual nunca  conseguiram suprimir.

Em relação à anteriormente mencionada canção dos Wild Cherry foi o destino realmente que trouxe esse “espantástico” sucesso até nós. Na década de 70, a banda cujo nome foi inspirado numa marca de pastilhas para tosse estava a tocar num clube quando alguém na plateia gritou: “Toca uma música funky, branquelas!” O rude e estranho pedido inspirou o frontman Rob Parissi a escrever o único grande sucesso da banda que subiu até o primeiro lugar na Billboard Hot 100 em 1976.

Não pensem que escolher os Silicon Teens a tocar Just Like Eddie logo a seguir a um shot de Tequila dos The Champs é opção plena de inocência. Não é. O single de sucesso dos Champs tem apenas três palavras – e são todas a palavra “tequila”, claro. Fácil de aprender e cantarolar, impossível de esquecer, o 7” alcançou o 5º lugar no top 50 de singles da Billboard em 1958. Os Champs ainda tentaram recapturar essa “glória e magia” com uma canção sequencial intitulada “Too Much Tequila” em 1960. Que infelizmente só conseguiu subir até ao 30º lugar da Billboard Hot 100.

Já o caso dos Silicon Teens é outra história. Uma made-up band à laia dos Archies ou dos Gorillaz, totalmente “fabricada” com actores que davam a cara à imprensa enquanto o boss da Mute, Daniel Miller e o seu buddy Frank Tovey do projecto Fad Gadget, andavam a brincar aos rocks antigos tocados em jeito de como sendo para a geração que iria ver o Blade Runner no cinema logo de seguida. Comercializados como um quarteto de adolescentes tocando synth-rock rudimentar com som de calculadoras de bolso, esse som “chip ‘n’ roll” do projeto era um verdadeiro diagrama de Venn, perfeito na deferência à história da pop, uma impassível brincadeira punk na aceitação de uma emergente revolução electrónica. Os primeiros fãs do projeto incluiriam os Depeche Mode, que logo assinaram contracto com a Mute e, presumivelmente, monopolizaram todo o tempo que Miller teria para continuar com a brincadeira.

Acredite-se ou não, a “campainha” na música “Ring My Bell” refere-se ao telefone e foi escrita originalmente para Stacy Lattisaw, que na altura tinha 11 anos, como um hit teenybopper sobre amigos a comunicarem ao telefone, mas foi presenteado a Anita Ward quando Lattisaw assinou com outra editora. Embora “Ring My Bell” tenha chegado ao lugar cimeiro do Hot 100, Ward nunca conseguiu ter outro grande sucesso.

Quer se perceba ou não as notas orquestrais que iniciam Bitter Sweet Symphony estão provavelmente arraigadas no cérebro de cada um de nós. Esta canção da banda liderada por Richard Ashcroft definiu o final dos anos 90, subindo para o top 15 da Billboard Hot 100 em 1998, sendo indicada para vários prémios MTV e chegou mesmo a ganhar um Grammy. Claro que foi o único grande sucesso da banda – e sim, levou a uma batalha de créditos com os Rolling Stones e supostamente todos os royalties foram para a banda de Mick – mas é (re)vivido em dezenas de cover versions, de Beyoncé a Limp Bizkit, em festas, cerimonias e casamentos por todo este mundo fora. Pois é.

Un Clair de Lune à Maubeuge é uma canção composta em 1961 por Pierre Perrin que na altura trabalhava como taxista em Paris. A história do sucesso dessa música inspirou o filme homônimo lançado no ano seguinte, com Pierre Perrin em seu próprio papel. Jean Dujardin cantarola as primeiras notas da melodia no primeiro filme da trilogia OSS 117, Le Caire, Nid d’espions. Numa cena de Bienvenue chez les Ch’tis, a música é tocada em modo fanfarra pela banda de Bergues. E no volume 35 dos livros de Cédric, podemos ver o avô do herói ouvindo a música. Foi igualmente o único grande sucesso de Perrin mas foi adoptado e adaptado por muitos artistas, incluindo Claude François e Annie Cordy, sendo a versão mais famosa a gravada por Bourvil.

Veja-se o caso de Rapper’s Delight, amplamente reconhecido como o primeiro rap a ter notoriedade e sucesso comercial e por isso incluído no Registro Nacional de Gravações da Biblioteca do Congresso Americano por ser “culturalmente, historicamente ou esteticamente significativa”. No entanto e mesmo tendo o crédito por trazer o rap para o mainstream, os Sugarhill Gang nunca mais tiveram um sucesso comercial, não conseguindo depois disso entrar no Top 40. Ou então o caso dos The Knack, que tiveram com My Sharona o seu cartão de visita e talvez a sua sentença de morte artística. O single de estreia disparou para o topo das tabelas de vendas e tornou-se a música da Capitol Records que alcançou o gold status mais rapidamente desde “I Want to Hold Your Hand” dos Beatles. A banda não voltou a conseguir ter outra canção no top 10.

As minhas escolhas desta semana acabam ironicamente com os Timbuk 3 e The Future’s So Bright (I Gotta Wear Shades) porque o tema escolhido como mote desta m4we é como uma cautionary tale, de como um grande sucesso pode ser uma entrega da alma ao diabo mas serve também para agradecer aos envolvidos esse pequeno inspirado bouquet com que nos presentearam e que (ok, é verdade) durante uns meses “perfumou” por todo o lado e quase que deu em doida toda esta boa gente. Mas depois deixou-nos para todo o resto da nossa vida um hit, indelével e intangivelmente marcado na nossa memória como um bom “cheiro” do passado, uma marca, um feito difícil de superar ou esquecer.

#staysafe #musicfortheweekend

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One hit wonder is the term being discussed here today but the French, sometimes more empirical in these things, treat these 15 minutes of fame attributed to certain artists as success sans lendemain.

PSY with Gangan Style or Iran Costa’s Bicho, Del Rio’s Macarena or Las Ketchup with Aserejé, I’m talking about things sometimes so deplorable and that have impacted on our eardrums to such bloody exhaustive extension that one would have an excuse and possible forgiveness on the decision for whatever reason to do justice with our bare hands…

On the other hand, we have to thank the composers of chart-toppers like Come on Eileen, Groove is in the Heart, I’m Gonna Be (500 Miles), Play That Funky Music or Rapper’s Delight for having given us at least these transcendent tunes & rhymes, even if their career later “died on the beach” without ever reaching high sales status, the fame (and profit a associated with it) achieved “by that one” single song can’t be taken away from any of them.

These things of momentary stardom may very well destroy the soul of many composers, imagine all those who reach it in their first 7” and then see the rest of their careers skirting the bottom of the charts in vain, the weight “of this one” success shredding the author’s confidence… and the worst part is that it’s not a thing of this day and age or merely reserved for the universes of pop and rock. Note the example of Carmina Burana, which can be evaluated as a unique success for “collector” Carl Orff, but he would end up practically only recognised for that work, the rest of his career being a total “vacuum”.

Or the example of Mário Mata, a fantastic composer whose career was forever “haunted” by Não Há Nada Pa Ninguém. That year, 1981, had another example of a popular song that played all the time on the radio and thus “building” a huge chasm between the artist and notoriety. If a prudish “piiii” positioned over the diction of a pubic hair mention gave Patchouly by Grupo de Baile a certain reputation, it also ended up nailing them with that seal of band-of-just-one-success which they never managed to suppress.

Regarding the previously mentioned song by Wild Cherry, it was really fate that brought us this catchy song. In the 1970s, the band named after a cough drops brand was playing in a club when someone in the audience yelled, “Play some funky music, whitey!” The rude and awkward request inspired frontman Rob Parissi to pen the band’s only major hit that climbed to #1 on the Billboard Hot 100 in 1976.

Do not think that choosing the Silicon Teens’s Just Like Eddie right after a shot of Tequila by The Champs is an innocent option. It is not. The Champs’ hit single has just three words – and they’re all the word “tequila”, of course. Easy to learn and hum, impossible to forget, the 7” reached #5 on the Billboard top 50 singles chart in 1958. The band even tried to recapture that “glory and magic” with a follow-up song titled “Too Much Tequila” in 1960. Unfortunately it only managed to climb to the 30th slot of Billboard’s Hot 100.

The case of the Silicon Teens is a very different story. A made-up band similar to the Archies or the Gorillaz, completely “manufactured” with actors who were the face for the press while the boss of Mute, Daniel Miller and his buddy Frank Tovey from the Fad Gadget project, were playing old rock played in such a way as for the generation that would see Blade Runner in multiplexes soon after. Marketed as a quartet of teenagers playing rudimentary synth-rock that sounded like being made by pocket calculators, the project’s chip ‘n’ roll racket was a veritable Venn diagram, perfect in deference to pop history, a deadpan post-punk romp in acceptance of an emerging electronic revolution. Early fans would include Depeche Mode, who soon signed to Mute and presumably cornered all of Miller’s time to keep going with all the razzle-dazzle.

Believe it or not, the “bell” in the song “Ring My Bell” refers to the ol’ mighty phone and was originally written for Stacy Lattisaw, who was 11 at the time, as a possible teenybopper hit about friends communicating over the phone, but it was gifted to Anita Ward when Lattisaw signed with another label. Although “Ring My Bell” went to number one on the Hot 100, Ward never managed to have any other big hit.

Whether you realize it or not, the orchestral notes that start Bitter Sweet Symphony are probably ingrained in the brain of each one of us. This song by the band led by Richard Ashcroft defined the late ’90s, rising to the top 15 of the Billboard Hot 100 in 1998, being nominated for several MTV awards and even winning a Grammy. Of course it was the band’s only major hit – and yes, it did lead to a credits battle with the Rolling Stones and supposedly all royalties went to Mick’s band but it gets (re)lived in dozens of cover versions, from Beyoncé to Limp Bizkit, at parties, ceremonies and weddings all over the world. Yup.

Un Clair de Lune à Maubeuge is a song composed in 1961 by Pierre Perrin who at the time was working as a taxi driver in Paris. The success story of this song inspired the eponymous film released the following year, with Pierre Perrin playing himself. Jean Dujardin hums the first notes of the melody in the first film of the OSS 117 trilogy, Le Caire, Nid d’espions. In a scene from Bienvenue chez les Ch’tis, the music is played in fanfare mode by Bergues’ band. In volume 35 of Cédric’s books, we can see Cédric’s grandfather listening to the music. It was also Perrin’s only major hit, but it was adopted by many artists, including Claude François and Annie Cordy, the most famous version being the one recorded by Bourvil.

Take the case of Rapper’s Delight, widely recognised as the first rap to achieve notoriety and commercial success and therefore included in the National Recording Registry of the US Library of Congress for being “culturally, historically or aesthetically significant”. However, and even though they are credited with bringing rap to the mainstream, the Sugarhill Gang never again saw any commercial success, failing to break into the Top 40 after that. Or the case of The Knack, who with My Sharona had their calling card and perhaps their artistic death sentence. This debut single shot to the top of the charts and became the fastest Capitol Records song to reach gold status since The Beatles’ “I Want to Hold Your Hand”. The band never again managed to have another top 10 single.

My choices for this week ironically end with Timbuk 3 and The Future’s So Bright (I Gotta Wear Shades) because the theme chosen as motto for this m4we is like a cautionary tale, of how a great success can surrender one’s soul to the devil but it also serves to thank those involved for that inspired bouquet they gave us and which (okay, it’s true) for a few months “perfumed” everywhere and almost drove all of us good people crazy. But then it left us a garland, a hit tune for the rest of our lives, indelibly and intangibly smeared in our memory as a good “smell” of the past, a mark, an achievement difficult to overcome or forget.

#staysafe #musicfortheweekend

Norman Greenbaum – Spirit In The Sky

Carl Douglas – Kung Fu Fighting

The Champs – Tequila

Silicon Teens – Just Like Eddie

Frankie Goes To Hollywood – Relax

M – Pop Muzik

Cheryl Lynn – Got to Be Real

Dexys Midnight Runners & The Emerald Express – Come On Eileen

Deee-Lite – Groove Is in the Heart

Jupiter Red – The Secret Affair

Dennis Wilson – Dreamer (Ole Smokey’s Heaven In A Car Edit)

Kyu Sakamoto – Sukiyaki

Mário Mata – Não Há Nada Pa Ninguém

The Knack – My Sharona

The Weather Girls – It’s Raining Men (12” Mix)

The Proclaimers – I’m Gonna Be (500 Miles)

Musical Youth – Pass The Dutchie

Anita Ward – Ring My Bell

Digable Planets – Rebirth Of Slick (Cool Like Dat)

Pierre Perrin – Un clair de lune à Maubeuge

The Tokens – The Lion Sleeps Tonight

OMC – How Bizarre

Steam – Na Na Hey Hey Kiss Him Goodbye

The Sugarhill Gang – Rapper’s Delight

The Verve – Bitter Sweet Symphony

Trio – Da Da Da (ich lieb dich nicht du liebst mich nicht aha aha aha)

Jean Knight – Mr. Big Stuff

EMF – You’re Unbelievable

Wild Cherry – Play That Funky Music

Young M.C. – Bust A Move

J.J. Jackson With The Greatest Little Soul Band In The Land – But It’s Alright

The Andrea True Connection – More, More, More 

The Surfaris – Wipe Out

Lipps, Inc. – Funkytown

The Vapors – Turning Japanese

Grupo de Baile – Patchouly

Van McCoy & The Soul City Symphony – The Hustle

Bruce Channel – Hey! Baby

Blue Swede – Hooked On A Feeling

Timbuk 3 – The Future’s So Bright (I Gotta Wear Shades)

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